
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), deu nesta quarta-feira (11) o primeiro sinal público de que pretende adotar uma postura de maior independência em relação ao Palácio do Planalto. Em discurso durante o evento Brasília Summit, do grupo LIDE, Motta foi direto ao criticar a condução da política fiscal do governo Lula e fez cobranças pela liberação de emendas parlamentares, em tom de confronto.
“Não estou no cargo para servir a projeto político de ninguém”, declarou, em clara alusão ao Executivo. Filiado ao Republicanos, partido do Centrão, e eleito com forte apoio da base bolsonarista, Motta deixou claro que não aceitará que o Congresso seja apenas carimbador das propostas do governo, especialmente aquelas que envolvem aumento de impostos sem contrapartidas de corte de gastos.
A crítica central foi direcionada ao pacote fiscal articulado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como forma de compensar a perda de arrecadação com a revogação parcial do decreto que aumentou o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Entre as alternativas propostas, está a taxação de investimentos hoje isentos, como LCIs e LCAs — medida mal recebida tanto no Congresso quanto entre representantes do setor produtivo.
“Apresentar ao setor produtivo qualquer solução que venha trazer aumento de impostos sem o governo apresentar o mínimo de dever de casa do ponto de vista do corte de gastos não será bem aceito”, afirmou o presidente da Câmara.
As declarações vieram no mesmo dia em que o governo publicou no Diário Oficial a Medida Provisória que detalha os novos aumentos de tributos. A expectativa inicial do Ministério da Fazenda era arrecadar cerca de R$ 19 bilhões em 2025. Com as mudanças feitas após críticas do mercado e de lideranças políticas, a receita prevista caiu para R$ 6 bilhões no próximo ano e R$ 12 bilhões em 2026.
Bastidores da cobrança
Apesar da postura pública de endurecimento, Hugo Motta também atuou nos bastidores. De acordo com reportagem do portal G1, ele telefonou para a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, cobrando a liberação das emendas impositivas — recursos que têm execução obrigatória. O presidente da Câmara teria deixado claro que o governo encontrará dificuldades para aprovar qualquer proposta que envolva aumento de arrecadação, enquanto seguir travando a execução das emendas.
A insatisfação no Congresso vem crescendo diante da resistência do Planalto em liberar recursos em ano pré-eleitoral, o que tem alimentado o discurso de independência mesmo entre partidos que ocupam ministérios, como o Republicanos, o PP e o União Brasil.