Gabriel Boric toma posse como presidente do Chile; Sebastián Piñera deixa o poder

Mário Flávio - 11.03.2022 às 16:48h

O Chile tem a partir desta sexta-feira (11) o presidente mais jovem de sua história e um dos mandatários mais novos do mundo na atualidade. O líder estudantil Gabriel Boric, de 36 anos, que venceu as eleições presidenciais do país em dezembro, tomou posse da presidência chilena.

De esquerda, Boric recebeu a faixa presidencial do agora ex-presidente Sebastián Piñera. Em clima amigável, Piñera, conservador, entregou ao socialista Boric o símbolo maior da transferência de poder no país.

Após a cerimônia, o novo presidente circulou por ruas da cidade em carro aberto. Depois, a pé, cumprimentou simpatizantes.

Gabriel Boric foi eleito em dezembro com 55,9% dos votos após vencer, no segundo turno, o candidato da extrema-direita José Antonio Kast.

A cerimônia de posse, realizada no Congresso, na cidade de Valparaíso, contou com a presença do vice-presidente brasileiro Hamilton Mourão (PRTB) e da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Gabriel Boric foi eleito dois anos após a insurreição social que sacudiu o Chile em 2019. Presidente mais jovem da história do Chile, com 36 anos, Boric assume o comando de La Moneda com mais desafios do que os herdados da insurreição social, que exigia maior qualidade de vida e uma sociedade mais igualitária.

O ex-deputado, que ficou conhecido na juventude por ser um dos líderes das massivas manifestações estudantis que tomaram as ruas de Santiago, em 2011, também terá que lidar com a crise de migração no norte do país, com os conflitos entre os indígenas mapuche no sul e a vinculação entre a imagem do seu governo com o sucesso da convenção que escreve a nova Constituição do país.

O primeiro desafio do governo Boric será conseguir que a Convenção Constitucional chegue a uma proposta amplamente aprovada no chamado “plebiscito de saída”, em que a população decidirá se aprova ou não o texto elaborado para substituir a Constituição de 1980.

O texto atualmente é deliberado entre os 155 constituintes eleitos popularmente elaboram uma nova constituição.

A iniciativa de substituir o texto atual, herdado da ditadura de Augusto Pinochet, foi decidida no plebiscito de 2020, realizado após um acordo da classe política para tentar colocar fim à crise gerada pela insurreição social que explodiu no ano anterior.

O presidente eleito em um momento em que a sociedade pedia mudanças, será o primeiro a ter a maior parte do gabinete ministerial formado por mulheres. Dos 24 ministros já anunciados por Boric, 14 são mulheres, que ocuparão pastas como a de Interior, a da Saúde, a da Justiça e a da Defesa, que será ocupado pela neta de Salvador Allende, Maya Fernanda Allende.

Entre os principais objetivos da nova gestão, estão reformas estruturais, como a tributária, para garantir recursos para maiores gastos públicos, e da previdência, atualmente controlada principalmente por fundos privados, e é motivo de forte insatisfação social.

Porém, por não ter maioria absoluta no Legislativo pode ser um empecilho para a aprovação de projetos de lei ambiciosos. Há quase um empate entre esquerda e direita no parlamento.

Apesar das expectativas, Boric tem deixado claro que as mudanças promovidas por sua administração serão graduais. O discurso dele foi se moderando após o primeiro turno das eleições presidenciais, com aceno ao mercado financeiro.

Além disso, apesar das demandas sociais que levaram os chilenos a tomar as ruas a partir de 2019, problemáticas como a insegurança urbana, conflitos por território entre indígenas mapuche e proprietários de terra no sul do país e a massiva migração pelas fronteiras do norte do país – em sua maior parte de venezuelanos – nos últimos anos, passaram a dominar a discussão pública.

O norte e o sul do país estão sob estado de exceção constitucional de emergência devido às crises migratória e territoriais, respectivamente.