O Festival de Teatro do Agreste (FETEAG), realizado há 42 anos em Caruaru, transcende sua natureza como um mero evento teatral anual. Há décadas, ele tem sido a força motriz por trás da rica tapeçaria cultural de Caruaru, enriquecendo a cidade com uma variedade de espetáculos teatrais de renome nacional e internacional. No entanto, a edição de 2023 enfrenta uma encruzilhada significativa, com a possibilidade real de transferir suas atividades exclusivamente para o Recife, devido à falta de apoio financeiro e logístico.
O FETEAG é mais do que um evento; é um capítulo fundamental no calendário cultural de Pernambuco e um elemento essencial na história cultural de Caruaru. Como um evento não comercial, o FETEAG é uma demonstração viva do compromisso contínuo do Teatro Experimental de Arte com a preservação e promoção da cultura teatral. No entanto, sua continuidade depende do apoio governamental e de políticas públicas permanentes, que parecem estar em falta em nossa cidade. É crucial reconhecer que eventos como o FETEAG são motores culturais que dependem de um apoio sustentável.
A ausência desse apoio coloca em risco não apenas um evento anual, mas uma tradição arraigada que representa uma plataforma vital para artistas locais, nacionais e internacionais compartilharem suas criações com a comunidade.
O FETEAG tem sido mais do que um evento local; ele tem sido um elo vital para colaborações transnacionais significativas. Ao longo dos anos, o festival estabeleceu parcerias importantes com instituições de renome internacional, como o Institut Français, o Pro Helvetia da Suíça e o Goethe Institut da Alemanha, enriquecendo sua programação com obras que refletem a diversidade cultural e a inovação criativa de várias partes do mundo, muitas das quais nunca haviam se apresentado no Brasil.
A possível não realização da etapa Caruaru do FETEAG 2023 traz à tona preocupações profundas. Além de afetar a identidade cultural de Caruaru, teria implicações econômicas significativas. O FETEAG é um ímã para o turismo, estimulando a ocupação hoteleira, restaurantes e comércio local. A ausência desse influxo econômico seria um golpe para a cidade. Além disso, o FETEAG desempenha um papel vital no desenvolvimento artístico e cultural dos talentos locais. O palco prestigioso do festival é uma vitrine essencial para a promoção de artistas emergentes e é fundamental para a profissionalização de muitos.
A possível não realização do evento em Caruaru privaria a comunidade artística local dessa importante plataforma, prejudicando o crescimento das artes cênicas na cidade. Apesar dos desafios, há esperança. A comunidade de amantes do teatro em Caruaru pode ser um fator decisivo para reverter essa situação. A conscientização sobre a importância do FETEAG para a cidade e para a promoção de uma cultura acessível e inclusiva pode incentivar as autoridades locais a repensar seu apoio.
O FETEAG 2023 está em uma encruzilhada que transcende o âmbito de um evento isolado. A decisão de manter o festival em sua cidade de origem ou apenas executar a etapa Recife é um desafio complexo, mas também é uma oportunidade para reafirmar o compromisso com a cultura, a arte e a comunidade que fizeram do FETEAG uma peça central na busca pela descentralização e democratização das artes em Pernambuco. Procurado, o produtor executivo do FETEAG, Fabio Pascoal, afirma que: “desde março tenho tentado um diálogo com a Fundação de Cultura, inclusive enviei o projeto via Protocolo Digital da Prefeitura de Caruaru e fui informado que o mesmo foi acessado pela chefia de Gabinete da FCC em abril, mas até o momento não foi dada nenhuma devolutiva sobre nossa solicitação de apoio”.
E para finalizar, Fabio Pascoal reforça que: “a programação de um festival do porte do FETEAG não se faz do dia para a noite, pois muitos grupos têm agendas fechadas com um ano de antecedência”. E nos lembra ainda que: “o valor solicitado para a realização da etapa Caruaru, que tem em sua grade mais de 15 espetáculos, nacionais e internacionais, além de oficinas e ações exclusivas para o alunado da rede pública de ensino de Caruaru, e que deverá atingir um público de aproximadamente 5 mil pessoas, é muito inferior ao cachê pago a um/a artista, de pouca expressão nacional, que vem cantar no São João de Caruaru”.