Os Estados Unidos anunciaram nesta segunda-feira que concluíram a retirada de seus militares do Afeganistão, encerrando um dia antes do prazo a guerra mais longa da história estadunidense, após 20 anos de ocupação do país da Ásia Central.
Depois de terem invadido o Afeganistão em retaliação aos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 nos EUA e derrubarem do poder o Talibã, acusado de dar abrigo a Osama bin Laden, as forças dos Estados Unidos deixam o país duas semanas depois de o grupo fundamentalista retomar Cabul.
Em meio a uma retirada caótica, mais de 122 mil civis foram removidos de avião pelos governos ocidentais desde 14 de agosto, quando o Talibã já avançava rumo à capital, diante da capitulação do Exército treinado e armado pelos estadunidenses e seus aliados da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
Depois que Washington anunciou que o processo de retirada de suas tropas foi finalizado, o chefe do Comando Central dos EUA afirmou que nem todos os civis que eles queriam remover conseguiram sair do Afeganistão, mas que todos os militares foram retirados. Estima-se que cerca de 300 mil afegãos trabalharam de alguma forma para as forças ocidentais durante os últimos anos, e teme-se que os que ficaram sejam alvos de represálias do Talibã, apesar das promessas em contrário do grupo.
Nos últimos dias, militares estadunidenses disseram que os Estados Unidos continuariam os esforços da remoção e se retirariam totalmente até 31 de agosto, a data anunciada anteriormente pelo presidente Joe Biden. No entanto, o último voo deixou o país faltando um minuto para o dia 31, às 23h59 de segunda-feira (horário do Afeganistão), segundo o chefe do Comando Central dos EUA, Kenneth McKenzie.
À medida em que se aproximava o prazo da retirada militar, as tensões aumentaram drasticamente, e um atentado terrorista na última quinta-feira deixou mais de 180 mortos, entre eles 13 militares dos Estados Unidos, nos arredores do aeroporto de Cabul. O atentado com homem-bomba foi reivindicado pelo Estado Islâmico de Khorasan, conhecido pela sigla em inglês Isis-K, que é inimigo comum do Talibã e dos EUA.
Ainda nesta segunda-feira, as defesas antimísseis dos EUA interceptaram ao menos cinco foguetes lançados contra o aeroporto de Cabul, em outro ataque reivindicado pelo Isis-K. No domingo, horas depois de emitir um alerta instruindo seus cidadãos a deixar os arredores do aeroporto diante do risco iminente de novos atentados, Washington usou mísseis disparados de drones contra um possível carro-bomba do Isis-K, matando ao menos dez civis afegãos de uma mesma família, segundo reportou o New York Times.
Na noite desta segunda-feira, algumas centenas de pessoas ainda aguardavam possíveis voos de saída fora do perímetro do aeroporto de Cabul, mantidas à distância por combatentes do Talibã que faziam a segurança da área. Cerca de 1.200 pessoas foram transportadas de avião de Cabul nas 24 horas anteriores, segundo a Casa Branca. O número é apenas uma fração dos 21 mil que chegaram a ser removidos em um único dia da semana passada.
Possivelmente, ainda há muitos outros afegãos elegíveis para um visto especial dos EUA, mas que agora estão em um Afeganistão sob o controle total do Talibã. Muitos são ex-intérpretes dos militares dos EUA que estão em algum estágio do processo para receber o documento e que temem por sua segurança.