Entrevista – Nova cultura política em Caruaru é o desafio de Zé Queiroz a partir de 2013

Mário Flávio - 31.12.2012 às 15:41h

Zé Queiroz diz que chega ao 4º mandato com fôlego novo

Para fechar o ciclo de entrevistas de 2012 no Blog do Mário Flávio, decidimos mais uma vez sabatinar o prefeito reeleito em Caruaru, Zé Queiroz (PDT), para traçar os principais desafios da nova gestão municipal da Capital do Agreste a partir de 2013. Queiroz assume pela 4º vez na história de Caruaru o comando da prefeitura, e ele promete que não quer apenas “cumprir por cumprir” o último mandato. Cauteloso em suas colocações, ele aposta em participação popular e na implantação de uma nova cultura política, de relação transparente e aberta com a Câmara Municipal, ainda que os próprios vereadores eleitos ainda falem constantemente “voto no candidato do prefeito”, o que lembra as velhas práticas de interferência entre poderes. Além disso, o prefeito também volta a falar sobre a importância da unidade da Frente Popular e mantém o discurso de gestos de reconciliação com João e Raquel Lyra. Confira.

Mário Flávio – O senhor chega a 4 anos de mandato, o balanço e positivo pelo tempo a frente pela terceira vez?

Sim, compreendo que as dificuldades foram muitas e os atropelos também, mas plenamente compensado pelos resultados obtidos. Posso dizer a Caruaru, numa avaliação pessoal, que era compromisso meu e de Jorge superar as duas primeiras gestões, e o balanço que a gente faz  pela satisfação da população é que superamos a marca dessas duas gestões. Temos uma pesquisa para fazer o balanço do resultado da administração e estamos com 79% de ótimo e bom. Isso, se partir para a aprovação de quem aprova ou não aprova, os índices são maiores. Então, o povo reconheceu o trabalho que nós fizemos. Enfrentamos tabus, começando pela Destra. Nós implantamos o que prometemos e sabíamos que era um marco, mas sabíamos que toda mudança implica em reações. Nós avançamos e modernizamos essa cidade. A modernidade foi uma tônica de nossa administração. Quando se verificam as repartições públicas, o aspecto interno da Destra com o sistema de monitoramento, a zona azul, que é mais moderna do Brasil, os sistemas de controle de Educação e de Saúde, nossa prática de políticas sociais, a gente pode celebrar. Eu só lamento que, no final da administração, a minha companheira, que eu respeito, presidente da República, tenha imposto aos município os sacrifícios pelos quais passamos. Isso não alterou em nada os serviços oferecidos na cidade, não há nada comprometido. Agora, o aperto é doloroso, por falta de recursos. Mas, faz parte, vamos daqui pra frente nos preparar para a próxima gestão.

Eu só lamento que, no final da administração, a minha companheira, que eu respeito, presidente da República, tenha imposto aos município os sacrifícios pelos quais passamos

Johnny Pequeno – No caso, a criação de novas pastas como a de Meio Ambiente e o possível desmembramento da Fundação de Cultura teriam, nesse momento, esbarrado nessa dificuldade de conseguir recursos, em meio à crise?

Não, quase dessa forma. É assim: Nós não apressamos para enviar projetos para a Câmara em dezembro, porque como sabemos que estamos em uma crise, podemos deixar esses estudos para janeiro. Por isso digo quase. Na medida em que fizermos a aprovação do projeto do organograma como um todo, só vamos preenchê-lo conforme a estabilização financeira aconteça. Caso contrário, as pessoas fazem audiência com o prefeito, mas não obtêm respostas. Não basta encenação. Estou com a sensibilidade de discutir a pauta da sociedade, mas com responsabilidade de responder afirmativamente: “Pode? Pode e faz!”. É muito melhor, então eu posso muito bem esperar um pouquinho, enquanto aguardo o equilíbrio financeiro.

JP – O novo modelo de gestão que o senhor defende trata-se de uma questão também de choque de cultura de política, com um modelo tradicional que faz parte das coisas do “País de Caruaru”.  Como o senhor avalia o impacto disso sobre os vereadores que atuarão a partir da nova legislatura?

Você verifica que tenho destacado o papel desempenhado pela Comissão de Transição. Mudou a cultura porque colocamos um vereador na comissão. Surpreendemos a todos. Era porque o vereador ia ser secretário? Não era isso, era para que ele conhecesse o outro lado da moeda e que chegasse lá [na Câmara] e pudesse vender o outro lado da moeda. Isso terminou transformando-o no novo líder do governo [Demóstenes Veras]. Mas, vocês sabem que para estabelecer uma nova cultura é preciso ter paciência, é feito a Destra. É preciso ir convencendo e mostrar sinceridade. Não sei se observaram que já no meu discurso de diplomação vendi a cultura política pregada pela Comissão de Transição. Observem que a prática da oposição e de companheiros discordantes não deu certo, levou ao fracasso. O que representa para a sociedade de Caruaru esses posicionamentos radicais, críticas contundentes, palavras fortes? Sabe o que é? Pequenez na discussão política. Diminui a qualificação do vereador e da Câmara. Não representa a verdadeira aspiração do caruaruense. Os cidadãos querem ver resultados, mas pergunte aos caruaruenses se ele quer ver agressões, eles não aprovam isso. Eu quero alimentar a cultura política do respeito pelos vereadores. Não adianta me provocar, eu não saio do sério nem da normalidade de conduta. Me agride, a população que julgue. E nesse contexto, eu passo para a população a minha mensagem propositiva. O gabinete estará aberto para que eles não se inibam e venham a mim e questionem e coloquem os problemas. Quero tratá-los assim.

Mário Flávio – Existiria uma falta de comunicação adequada nos discursos dos vereadores, que volta e meia dizem “eu voto no candidato do prefeito” para presidência da Câmara. Isso não lhe coloca numa saia justa, já que dá ideia de interferência no legislativo?

Você precisa examinar como as coisas podem acontecer, quando verifica que o sentimento do vereador  da base deve ser de harmonia, para que o prefeito tenha confiança e possa ter a condução de suas propostas à altura da cidade. Por exemplo, eu não faço questão de que um projeto meu seja derrotado. Me criticaram por que minha administração foi a de maior número de greves. O que eu perdi? Democraticamente ganhei. Respeitei o trabalhador e dialoguei ao extremo. A mesma coisa vale para o sentimento da base. Ninguém diz que o sentimento da base da Assembleia Legislativa coincide com o do governador de ter Guilherme Uchôa presidindo a mesa durante  8 anos. Ninguém diz, porque não precisa. Basta que se capte que é preciso ter um intermediário que traduza essa política nova, com respeito, sem interferência. Por exemplo, dia 26 de dezembro meu projeto foi derrotado, na última sessão do ano. E foi derrotado com votos de vereadores meus… O que quero mostrar é que o vereador poderia apenas dizer “nós vamos ter um sentimento do que é melhor para a base e para o prefeito. É o que eu quero, que haja diálogo e que eles saibam que o prefeito precisa confiar no vereador que conduza o destino da Casa Jornalista José Carlos Florêncio, e que ela esteja à altura desse tamanho de Caruaru.

É o que eu quero, que haja diálogo e que eles saibam que o prefeito precisa confiar no vereador que conduza o destino da Casa Jornalista José Carlos Florêncio, e que ela esteja à altura desse tamanho de Caruaru

MF – Qual o perfil que o próximo presidente da Câmara de Caruaru deve ter?

É o perfil da confiança, do equilíbrio e de quem saiba conduzir a Casa, até assimilando essas propostas de nova cultura política. É o perfil de quem saiba agregar todos, oposição e governo.

JP – Mas então, é preciso saber diferenciar entre um vereador já veterano na Casa e um que, mesmo que esteja sendo eleito agora, carregue esses valores de nova cultura política, não é?

Não tenha dúvidas. Eu acho que qualquer vereador novo pode ter esse perfil, pela sua formação política, não há diferença. É algo que se aplica a todos.

MF – No que se refere ao PAC Mobilidade, o senhor já pretende contar com recursos em 2013?

A coisa mais importante numa administração é conseguir se comunicar com a população sem gerar expectativas desnecessárias. Quando uma liberação de recursos está em tramitação, vocês sabem que primeiro se aprova no ministério, depois, esses projetos vão ser remetidos para o BNDES, aí a prefeitura tem que apresentar a sua habilitação. Depois, tem que ir, salvo engano, ao Senado, para apreciação da proposta da prefeitura. Vejam como é um processo burocrático. Com tudo aprovado, e esses recursos chegarem, ainda há a abertura de licitação. Então, eu não acredito que, no ano de 2013, eu aprovei os recursos para mobilidade urbana.

MF – Qual a importância de Wolney em Brasília para agilizar o alcance desses recursos?

Eu acho que não se trata apenas de trazer os recursos para o projeto de mobilidade. Eu tenho falado da felicidade de ter Wolney em Brasília representando Caruaru, com o trânsito que ele tem lá. Ele sabe abrir portas, sabe grandear a confiança e conseguir subscrição para emendas parlamentares. Você sabe que há emendas parlamentar em conjunto e isolada. A do asfalto foi conjunta, e ele conquistou outra, para asfalto na zona rural, também de bancada. O deputado federal Wolney Queiroz dificilmente será suplantado na história de Caruaru pelo volume de recursos conquistados. Se nós fecharmos essa emenda de bancada que foi proposta de R$ 150 milhões, ainda que ele próprio acha que passe pelos cortes da Comissão de Orçamento, o que iria para R$ 70 ou 80 milhões, ainda assim ele já somaria mais R$ 200 milhões de aporte de recursos para a cidade. Quem tomou iniciativa de trazer tantos recursos para a cidade? Nenhum. Isso me conforta, por ser meu filho, mas também por fazer política grande, com práticas importantes, respeitado em Brasília, respeitado como parlamentar e com uma visão administrativa que eu não sei se vocês chegaram a fundo para saber o quanto ele se dedica à administração de forma externa. Ele é um cara que aprendeu comigo fazendo visita às cidades. Ele reclama mais a mim do que os próprios moradores.Ele me dá os detalhes da cidade, por isso que eu falei que ele hoje tem capacidade pragmática para ser prefeito de Caruaru, isso eu falo à vontade porque ele não pode ser prefeito na próxima, é algo de oito anos pra frente. Mas eu diria que, sem a ajuda dele, os resultados da administração atual não seriam os mesmos.

MF – Ainda referente à sua relação com os Lyra, entrevistamos Raquel e ela citou os valores dela enquanto deputada e voltou a dizer que não foi ouvida pela atual gestão. Nas últimas administrações do senhor e de João Lyra, houve combinações de vocês para indicar secretários? Como era montado esse secretariado?

Nem houve indicação minha quando João era prefeito, nem houve na gestão minha a indicação dele. O que ocorreu eu comuniquei a ele sobre o que ele achava e ele não ia discordar dos cinco nomes que serviram a ele, mas ele não indicou, ele concordou com as escolhas. Eu me lembro apenas que pedi a sugestão de uma secretária de Saúde, mas ele não me fez isso. Mas, teria sido muito bom…Pois não teria tido os atropelos que tive na Secretaria de Saúde…

JP – Ainda nessa entrevista com Raquel, falamos sobre a confraternização realizada na semana passada no escritório político dela, em que o senhor e João mantiveram um discurso de reaproximação. No entanto, a própria Raquel citou que isso se limita ainda a gestos durante eventos. É necessário ter um diálogo oficializado, no que se refere à unidade da Frente Popular em Caruaru?

Acho que não, é preciso ter uma visão de limites e competência. Na hora que João foi a Patos de Minas e chamou Franco Vasconcelos para ir, o que ocorreu foi a interlocução do vice-governador com a nossa administração. Mas, o papel de João é ser vice-governador de Eduardo Campos. Olha que sorte para Caruaru, ter um governador parceiro, operoso e moderno, isso destaca o vice-prefeito. A função de João não é fiscalizar, não. Quem tem que fiscalizar a prefeitura são os vereadores. Agora, qualquer interlocução nesse sentido é a aproximação pragmática dessa cultura. Já fui a chamado dele a Minas Gerais, em Belo Horizonte, a prática de segurança de um bairro, para ter uma visão moderna no trato da segurança. Isso representa exatamente essa disposição para prática da cultura política. Vocês vão dizer assim: “Zé Queiroz ao longo dos quatro anos só teve gestos com João Lyra”, e é essa a prática que eu quero com João e com todos os integrantes da Frente Popular.

Vocês vão dizer assim: “Zé Queiroz ao longo dos quatro anos só teve gestos com João Lyra”, e é essa a prática que eu quero com João e com todos os integrantes da Frente Popular

MF – Algumas pastas são aguardadas com ansiedade, como a de Meio Ambiente e se a Fundação seria desmembrada. O senhor já falou que existem poucos recursos, mas quando de fato pretende colocar essas secretarias em prática?

Primeiro, é que eu quero em janeiro delimitar e fazer esses projetos de secretaria especial. Há as secretarias maiores e essas menores, especiais, tenho que analisar os custos de cada uma. Mas, enquanto essas secretarias não estão aí, tudo continua funcionando normalmente. Meio ambiente funcionava, cumprimos o programa de praças, de Serra dos Cavalos, de instalação de parques e começamos o programa Janelas para o Rio, mas o interrompemos devido a um problema de de convênio. Da mesma é com a Cultura, não se sofre com as ações nessa área porque não há ainda uma secretaria especial para esse tema, a administração continuará andando.

MF – Essas pessoas que estão lotadas nas diretorias de cultura e de meio ambiente permanecerão nos cargos?

Os titulares comissionados começam a se encerrar os contratos. Mas, a equipe é feita de funcionários que continuam as tarefas. Sobre a Fundação de Cultura, conversei com Pereira e ele vai continuar prestando serviços para nós. Vamos admitir uma hipótese de, por exemplo, ele apresentar um projeto voltado para a Semana Santa. No caso dos funcionários da Fundação, eu não vou demitir ninguém. Quando, na prática, estabelecermos as secretárias de Cultura e de Turismo, destinaremos as pessoas para cada uma dessas pastas. Se algumas não se adaptarem, ou serão relocalizadas ou se afastam.

JP – Quanto ao projeto que estabeleceria o novo prazo de contrato de concessão de linhas de ônibus. Isso acaba se referindo ao novo processo licitatório e gostaria de saber como ficará esse processo, já que o projeto não passou este ano…

A única coisa que lamento é que quando há um procedimento da Câmara que prejudica o andamento das coisas em Caruaru é ruim. Estamos cumprindo uma pauta com o Ministério Público e Tribunal de Contas para fazer o edital que possibilitará a modernização dos transportes públicos urbanos. Paramos isso, por conta de uma derrota. É aí que gostaria de contar com a Câmara, para que os vereadores verificassem que os projetos que tramitam ali representam os elevados interesses de Caruaru. Sorte que está terminando o ano e nós vamos começar a nova gestão. Reapresentaremos o projeto com certeza em janeiro e temos preocupação com aqueles prestam serviço de transporte público. O edital pode mexer com estruturas, mas quero ver o que mais se aproxima com o lado humano, para que façamos a modernização, mas não esqueça o sentimento de fraternidade que cada ato administrativo deve ter.

MF – Como foi a primeira grande reunião feita com o novo secretariado?

Foi muito boa, devo estar em alto astral. Foi uma troca de experiência e de uma linguagem que era preciso que existisse. Todos falaram a mesma língua pra mim e a sensação é de que estamos num caminho de uma estrada bem asfaltada. Essa será a administração mais participativa de Caruaru. E aí discutimos como deve ser a Secretaria de Comunicação, como deve ser o a tendimento à imprensa. Como é importante fazermos o trabalho em todas as pastas, para que se anule a questão de um atendimento ruim lá na ponta. Disso parte a satisfação do cidadão receber um serviço, ou de às vezes, não receber, mas de ser bem atendido. Você pode chegar a um setor onde o serviço não pôde ser prestado, mas ele foi tão bem atendido que saberá que poderá contar com esse atendimento da próxima vez. Essa é uma mensagem de que a importância não está no meu mandato, do vice, ou do secretário, e sim do serviço que vai ser prestado à sociedade. Assim, tiramos as vaidades e focamos o fundamental, que é servir a Caruaru.

Prefeito diz que quer harmonia com o Legislativo e com a Frente Popular