Eduardo Mendonça reconhece desgaste, mas reforça que sem proposta nova, greve fica do jeito que está

Mário Flávio - 23.04.2012 às 10:50h

Na manhã da última sexta-feira (20), os manifestantes da greve dos servidores da Destra se dirigiram à sede da Rádio Cultura do Nordeste, onde o prefeito Zé Queiroz participava de entrevista. E entre um breve tumulto, com direito ao prefeito de Caruaru perdendo a paciência com indagações de um dos grevistas e até queixa na polícia contra o motorista do prefeito, que teria chamado esse mesmo grevista de “nego safado”, o que ficou certo mesmo foi a disposição, tanto dos interlocutores da prefeitura, quando dos representantes do Sismuc, para tentar chegar a um consenso em um novo encontro na Mesa de Negociação, nesta segunda-feira (23), às 15h. Em entrevista ao blog, o presidente do Sismuc, Eduardo Mendonça, explicou que a greve já chega a um nível de desgaste em que é preciso solucionar de vez o último ponto de reivindicação dos grevistas, que é o reajuste salarial.

Johnny Pequeno – Na sexta, tivemos um tumulto quando o prefeito saía da Rádio Cultura, quando Zé Queiroz se sentiu desrespeitado por um dos grevistas e depois, quando esse mesmo grevista disse ter sido ofendido e sofrido preconceito por parte do motorista do prefeito. Essa situação paralela  foi negativa para a negociação? 

Eduardo Mendonça – Isso mostra que o atual momento faz com que os ânimos se exaltem e as pessoas percam a compostura. O grevista não chamou o prefeito de mentiroso, apenas disse que não era verdade o que estava sendo divulgado, de que a prefeitura havia atendido 13 das 14 reivindicações.  Quando a prefeitura enviou ao sindicato a proposta e a categoria acatou a maior dos itens, não houve preocupação da prefeitura em cumprir esses pontos, tudo ficou na base da conjectura, segundo a prefeitura, porque só poderia cumprir o acordo se os servidores  voltassem ao trabalho, enquanto os grevistas querem que todos os pontos sejam resolvidos, para poderem voltar ao trabalho, então criou-se o impasse. Há de se imaginar, já que a Justiça considerou a legalidade da greve, que não teria porque a categoria voltar ao trabalho sem a negociação definitiva e efetiva. Sexta-feira houve um problema infeliz, inclusive para o motorista do prefeito, pois ele de uma forma pejorativa chamou o agente de nego safado. O prefeito depois que saiu da rádio, decidiu voltar para conversar com os grevistas, mas foi para amenizar a situação, se colocou a disposição do sindicato, mas ao mesmo tempo disse que a negociação seria na Mesa e que não seria ele que diretamente negociaria conosco. Receber o prefeito nessas condições, fica sem sentido, só se fosse uma visita de cortesia. Assim, nós preferimos sentar com o secretário de Administração e tentar chegar a um ponto final para esse movimento.

E essa reunião é nesta segunda-feira, às 15h, com dois representantes da guarda municipal e dois do trânsito, não é isso?

Verdade, dois agentes, dois guardas e os representantes do Sismuc estarão reunidos com o Secretário de Administração e Assuntos Jurídicos, Antonio Ademildo, e vamos ver até onde o prefeito está autorizando os seus secretários a avançarem na negociação, visto que ele disse que o orçamento da prefeitura estaria no seu limite máximo. Se está no limite máximo e nós temos hoje uma liminar que garante a greve, talvez, como o prefeito mesmo disse, essa greve tenha que ser decidida na Justiça.

Mas, o que se nota é o desgaste, tanto da parte dos representantes da prefeitura, quando dos próprios grevistas. E isso foi demonstrado na sexta-feira. Os manifestantes estão irritados e terminam se expressando em momentos inadequados. Você acredita que nesta segunda-feira vai dar pra dizer “a gente quer isso” e a prefeitura responderá “sim, vamos atender dessa forma” e pronto?

Ou a prefeitura vem com algo novo a propor, ou vai ficar do jeito que está. A categoria já flexibilizou em muitos pontos, inclusive quando foi decidido não discutir a redução na carga horária, como se isso fosse uma uma cláusula pétrea da Constituição que não pudesse ser alterada, quando sabemos que é só um artigo de edital de concurso, e inclusive, que não constava no documento original. Foi inserido posteriormente em emenda acrescida ao edital. Somamos 40 dias de greve, se não houver diálogo, chegará a 45 dias e assim por diante. Mas, como você bem frisou, é um desgaste. É um desgaste político, para a administração, um desgaste emocional, para quem tenta negociar, um desgaste total, em todos os sentidos, para quem tenta e quem não tenta solucionar o problema, o estresse tem sido grande, e a prova disso foi sexta-feira.

Ok, no caso, há o argumento da prefeitura, apresentando o ofício com o resultado da reunião de vocês no dia 08 de março, em que se explica que a categoria reconheceu 13 das 14 propostas oferecidas pela prefeitura, baseadas nas reivindicações dos grevistas. Como você já explicou, há o impasse, a prefeitura diz que os pontos foram atendidos e que os grevistas devem voltar ao trabalho, e eles dizem o contrário. Mas, então, porque a prefeitura não teria cumprido de fato esses pontos?

A categoria concordou, aceitou os itens elencados, recusou a proposta salarial, e o que ouvimos da própria administração, seria o seguinte: ou aceita tudo, ou não aceita nada, a pauta é uma só. Como não podia conceder apenas os itens que eles consideraram favoráveis, então a negociação ficou suspensa. É aquela história, você compra um carro em dez parcelas, a primeira parcela é segunda-feira, se você não pagar não leva o carro, ah e você diz ‘ah, eu pago, mas só no próximo ano’, então não pagou nada, nem leva nada. Como a categoria não aceitou voltar ao trabalho sem negociar o item salarial, surgiu o impasse. Que a prefeitura mandou, mandou, que nós aceitamos, aceitamos, mas ninguém cumpriu.