Datafolha: maioria dos brasileiros reprova atuação do STF

Mário Flávio - 06.08.2025 às 09:36h

A imagem do Supremo Tribunal Federal (STF) entre a população brasileira atravessa um período de forte desgaste. De acordo com pesquisa divulgada nesta terça-feira (5) pelo Instituto Datafolha, 36% dos brasileiros consideram ruim ou péssima a atuação dos ministros da Corte. É a maior taxa de reprovação desde a última medição, em março de 2024, quando o índice era de 28%.

O levantamento, realizado nos dias 29 e 30 de julho, ocorreu antes da decisão do ministro Alexandre de Moraes que impôs prisão domiciliar ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), acusado de desrespeitar medidas cautelares. Ainda assim, o resultado já refletia o aumento da tensão entre o STF e setores políticos, especialmente os ligados ao bolsonarismo.

Segundo o Datafolha, 29% dos entrevistados consideram a atuação dos ministros como ótima ou boa, enquanto 31% avaliam como regular e 4% não souberam opinar.

Outro dado que chama atenção é a percepção de que o Supremo age de forma autocentrada: 68% dos entrevistados disseram acreditar que a Corte prioriza os próprios interesses, enquanto apenas 27% entendem que o STF atua pensando na população. A percepção negativa é majoritária em todos os recortes etários, regionais e de renda.

Polarização política reflete nos índices

A pesquisa também apontou uma diferença significativa entre os grupos políticos. Entre os eleitores que se identificam com o bolsonarismo, 81% reprovam o STF e apenas 2% aprovam a atuação da Corte. Já entre os eleitores alinhados ao presidente Lula (PT), 59% consideram positiva a atuação dos ministros, enquanto apenas 9% têm avaliação negativa.

Desde março, a relação do STF com setores da política nacional e internacional se deteriorou. Oito ministros da Corte tiveram seus vistos americanos cassados como retaliação à condução de investigações sobre a tentativa de golpe de Estado atribuída a Bolsonaro. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), autoexilado nos Estados Unidos, tem liderado ofensivas diplomáticas contra os magistrados brasileiros e chegou a pedir a aplicação da Lei Global Magnitsky contra Moraes.

Após a decisão de Alexandre de Moraes que impôs a prisão domiciliar ao ex-presidente, os filhos de Bolsonaro e aliados intensificaram os ataques ao STF, acusando a Corte de minar a democracia brasileira. Parlamentares como Luciano Zucco (PL-RS) e Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) convocaram seguidores nas redes sociais a usarem a expressão “vingança não é justiça” em protesto contra a decisão.

Repercussões em Brasília

A tensão também atingiu o Congresso Nacional. Deputados e senadores de oposição ocuparam as Mesas Diretoras da Câmara e do Senado em protesto contra o Supremo e prometeram manter a obstrução das pautas até que suas reivindicações — entre elas, a votação de um projeto de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro — sejam atendidas.

A pesquisa Datafolha reforça que, em meio à escalada dos conflitos institucionais e à polarização política, o STF vê sua imagem pública fragilizada. Com a continuidade dos embates e novas decisões polêmicas, a tendência é de que o tribunal permaneça no centro das disputas — tanto jurídicas quanto políticas — nos próximos meses.