A disputa pelas duas vagas de Pernambuco no Senado Federal promete ser uma das mais acirradas — e ideologicamente diversificadas — da eleição de 2026. Ainda a mais de um ano da campanha oficial, pelo menos nove nomes já circulam nos bastidores como pré-candidatos. O que se desenha é um cenário de múltiplas forças políticas tentando ocupar os espaços deixados ou mantidos por Humberto Costa (PT) e Fernando Dueire (MDB), os atuais senadores que também estão no páreo.
Humberto, nome histórico do PT, é uma das figuras mais experientes na corrida. Mesmo com um capital político consolidado no campo progressista, o senador terá que enfrentar um ambiente eleitoral mais fragmentado e, possivelmente, disputas internas no próprio campo da esquerda. Sua reeleição dependerá não só da força do lulismo em Pernambuco, mas também de sua capacidade de diálogo com setores fora do núcleo duro petista.
Já Fernando Dueire, suplente que assumiu com a ida de Jarbas Vasconcelos para a aposentadoria política, é discreto, mas tenta consolidar espaço com o apoio do MDB e segmentos do centro político. Ainda não há clareza sobre seu nível de competitividade, mas sua presença na lista sinaliza que pode disputar uma das vagas, sobretudo se conseguir se apresentar como nome de conciliação.
No campo bolsonarista, dois nomes já se colocam de forma explícita: Gilson Machado Neto e Anderson Ferreira, ambos do PL. Gilson, ex-ministro do Turismo e bastante identificado com o ex-presidente Jair Bolsonaro, tenta mobilizar o eleitorado mais fiel à direita ideológica. Anderson, ex-prefeito de Jaboatão e ex-candidato ao governo do estado, tenta unir o discurso religioso ao conservadorismo popular, mirando principalmente o voto evangélico. A dúvida é se o PL manterá dois nomes ou afunilará a disputa interna para tentar garantir pelo menos uma vaga. Sem falar que os dois trocam farpas públicas e não se suportam.
Do lado do Republicanos, o ministro Sílvio Costa Filho é nome certo no tabuleiro. Com trânsito entre direita e centro, é hoje um dos políticos com mais capilaridade entre prefeitos e lideranças regionais. Ocupa posição de destaque no governo Lula no ministério dos Portos e Aeroportos, mas sem abrir mão de manter pontes com setores conservadores. Seu perfil pragmático e moderado pode ser uma vantagem na briga por uma cadeira no Senado. Com muitos aliados nas prefeituras, esse fator pode pesar ao seu favor.
Também de olho está Eduardo da Fonte (PP), veterano da política e especialista em articulação de bastidores. Presidente estadual do Progressistas, ele detém o comando de uma federação com o União Brasil e um dos maiores tempos de TV — o que pode ser decisivo na campanha. Mesmo aliado da governadora Raquel Lyra, Dudu não descarta alianças fora da base estadual se isso lhe render viabilidade eleitoral. A foto dele nesse fim de semana ao lado prefeito do Recife e pré-candidato ao governo, João Campos (PSB), deixou uma ponta de suspense no ar.
Miguel Coelho (União Brasil) é outro nome que busca manter protagonismo após a eleição de 2022. Com forte inserção no Sertão e boa presença entre o eleitorado antipetista, o ex-prefeito de Petrolina tenta se recolocar no cenário estadual mirando o Senado como plataforma de projeção. Representa uma direita mais liberal e jovem, distinta do bolsonarismo clássico. A gestão dele a frente de Petrolina e essa facilidade de falar com os jovens podem pesar para ele entrar forte na disputa.
Pelo campo progressista mais independente, Marília Arraes (Solidariedade) ainda é uma incógnita. Embora ela tenha confirmado intenção oficial, seu nome circula com força nas rodas políticas para uma disputa a deputada federal. Com apelo popular e forte recall eleitoral, Marília pode ser uma das candidatas mais competitivas caso decida entrar na disputa — principalmente se conseguir unir os setores insatisfeitos com o PT e atrair votos à esquerda e centro-esquerda.
Fechando a lista, Jô Cavalcanti (PSOL), atual vereadora do Recife e militante das causas populares, pode representar a esquerda mais radicalizada. Sua eventual candidatura cumpriria o papel de reforçar as pautas sociais no debate público e pressionar as candidaturas mais moderadas a se posicionarem sobre temas como desigualdade, violência policial, direitos humanos e feminismo.
Com esse leque de opções, o que se desenha para 2026 é uma eleição para o Senado marcada não apenas pela quantidade de postulantes, mas pela diversidade de visões de mundo. Pernambuco terá nas urnas uma verdadeira síntese das disputas nacionais, com nomes ligados à direita, centro e esquerda em busca de votos — e de espaço em Brasília. A campanha ainda nem começou, mas os sinais já são claros: o Senado será um dos campos mais disputados do próximo ciclo eleitoral. A conferir.
