A disputa pelo comando do MDB em Pernambuco poderia ter seguido o curso natural da política, com divergências internas resolvidas nos bastidores. Mas o que se viu foi um espetáculo lamentável, com acusações trocadas por meio da imprensa entre dois aliados históricos: Jarbas Vasconcelos e Raul Henry, representados respectivamente por Jarbinhas/Fernando Dueire e o próprio Raul. O estrago foi grande — e atingiu diretamente o maior símbolo político envolvido: o ex-governador Jarbas Vasconcelos.

A imagem do velho guerreiro, reconhecido por décadas de contribuição à política pernambucana e nacional, saiu profundamente arranhada. O embate entre seu filho e seu mais leal aliado político expôs fissuras pessoais e políticas que vão muito além do controle de uma sigla. O MDB, antes unido em torno de Jarbas, hoje se vê dividido e, pior, em praça pública. A sucessão de notas com acusações mútuas chocou até os mais experientes observadores da cena política.

Não se trata apenas de um duelo interno por uma vaga na executiva do partido. Está em jogo o alinhamento do MDB para as eleições de 2026. Se Raul Henry mantiver o comando, o partido tende a seguir com o prefeito do Recife, João Campos (PSB), que vai disputar o governo contra Raquel Lyra (PSD). Caso Jarbinhas vença a queda de braço, o MDB caminha para o palanque da governadora, com o senador Fernando Dueire assumindo a presidência estadual da legenda.

A decisão caberá ao presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, que deve se pronunciar na próxima semana. Mas seja qual for o veredito, o desgaste é irreversível. A disputa escancarou ressentimentos, quebras de confiança e uma fratura difícil de recompor entre figuras que, até ontem, dividiam projetos, campanhas e palanques.

Ao fim, todos perderam: Jarbinhas e Raul, que deixaram de ser aliados para se tornarem adversários vorazes; o MDB, que sai enfraquecido; e, sobretudo, Jarbas Vasconcelos, cuja biografia agora carrega o peso de ver seu legado esgarçado por uma disputa que poderia — e deveria — ter sido evitada.