O recuo do governo Lula em revogar a mudança na regra do PIX pode ser considerado um marco simbólico na guerra de narrativas e comunicação. Um conflito travado no campo digital e da opinião pública, quando as armas não são mais apenas políticas, mas também a influência das redes sociais e a capacidade de engajar o povo. O episódio expôs as falhas na estratégia do governo, revelando um colapso na confiança e na construção de sua própria mensagem.
Desde o início, a proposta de alteração das regras do PIX já parecia desastrosa. Ela foi mal recebida por muitos setores da sociedade e, em grande parte, parecia um erro de cálculo político. No entanto, o verdadeiro ponto de inflexão veio quando o deputado Nikolas Ferreira (PL), conhecido por sua atuação polêmica e seu apelo junto à base mais conservadora, gravou um vídeo que se espalhou como fogo em palha seca. Com mais de 200 milhões de visualizações, o conteúdo não só viralizou como se tornou um dos principais motores de oposição à medida, furando a chamada bolha digital.
A reação do governo, longe de ser eficaz, foi um fracasso absoluto em termos de impacto e engajamento. Mesmo após a revogação.. A escolha do deputado Lindemberg Farias (PT), um nome politicamente desgastado, sem o apelo popular de Nikolas e com um histórico que inclui um passado problemático, só reforçou a sensação de que o governo estava completamente desconectado das demandas e do sentimento da população. O vídeo em que Lindemberg tenta refutar as acusações contra o governo obteve apenas 500 mil visualizações — um número insignificante comparado à avalanche de apoio à narrativa opositora. Em termos práticos, foi um fiasco completo. Se a intenção era reverter a pressão, o resultado até agora foi bem abaixo.
Mas a questão não é apenas a discrepância nos números. A derrota do governo não ocorreu apenas por um vídeo mais bem produzido ou por uma mensagem mais contundente de seus opositores. A verdadeira derrota foi interna, fruto de um governo que parece ter perdido a capacidade de falar com seu próprio povo. A aliança com a mídia tradicional e o uso de uma retórica distante da realidade da população ajudaram a aprofundar o abismo entre o discurso oficial e as necessidades reais da sociedade. Enquanto o governo busca uma narrativa de controle e estabilidade, muitos brasileiros veem suas angústias e frustrações amplificadas pela crise econômica, pela inflação e pela falta de perspectivas.
A narrativa de que o governo Lula perdeu para a “extrema direita” ou para as “fake news” é uma falácia. A verdadeira perda foi interna, e a guerra não foi contra forças externas, mas contra a própria credibilidade do governo. A falha na comunicação, somada à falta de confiança nas ações econômicas e políticas, acabou por gerar um cenário em que até o mais simples gesto de revogação de uma medida pareceu um grande retrocesso, até mesmo entre os aliados.
O governo Lula não perdeu apenas para seus adversários ideológicos, mas para sua própria imagem, que, por conta das contradições e da falta de transparência nas ações, se tornou insustentável. Nesse campo, não é a “extrema direita” que se sai vencedora, mas a própria fragilidade do discurso governamental. O recuo sobre o PIX é apenas mais um reflexo dessa desconexão com a sociedade, de um governo que não soube ou não conseguiu gerenciar sua narrativa de maneira eficaz.
Portanto, a lição que fica é clara: no mundo atual, a guerra pela comunicação é tão ou mais importante do que a batalha política tradicional. E, nesse campo, o governo Lula parece ter perdido não para seus adversários, mas para a sua própria falta de credibilidade.
