“Cheguei a vê-lo em audiências, mas nunca conversei pessoalmente”, diz ‘dama do tráfico’ sobre Flávio Dino

Mário Flávio - 14.11.2023 às 21:31h

Luciane Barbosa Farias, mais conhecida como a “dama do tráfico” no Amazonas, afirmou, nesta terça-feira, já ter participado de audiências no Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania com a presença do ministro da Justiça, Flávio Dino, ainda que sem ter conversado diretamente com o político. Mulher do chefe de uma facção criminosa amazonense, ela foi condenada em segunda instância a 10 anos de prisão pelos crimes de lavagem de dinheiro, associação para o tráfico e organização criminosa, mas recorreu e responde em liberdade. Em coletiva de imprensa na qual tratou dos encontros na pasta da Justiça, revelados pelo jornal Estado de S. Paulo, Luciane também disse ter viajado para Brasília, em uma dessas ocasiões, com despesas custeadas pelo ministério comandado por Silvio Almeida. As informações são do Jornal O Globo.

— Pessoas estão usando minha cabeça como Cristo para atacar o atual governo e o ministro. Flávio Dino nunca me recebeu. Cheguei a vê-lo, sim, em algumas audiências lá no Ministério dos Direitos Humanos, mas nunca cheguei a conversar com ele pessoalmente — afirmou.

O Ministério da Justiça, no entanto, negou através de nota a existência de qualquer audiência de Dino com a presença de Luciane e afirmou que o ministro nunca esteve na sede do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. Flávio Dino também refutou as declarações da esposa do chefe da facção em suas redes sociais. Em sua conta no X (antigo Twitter), o integrante do primeiro escalão do governo Lula chamou as afirmações de “absurdo”.

“Tais audiências – que teriam ocorrido no Ministério dos Direitos Humanos segundo a declarante – JAMAIS OCORRERAM. Qual vai ser o próximo absurdo ? Vejam: a declarante diz que me viu, mas que nunca conversou. Qual terá sido o crime que cometi ? Peço ajuda aos colegas juristas”, publicou.

A “dama do tráfico” afirmou ainda que a viagem foi paga pelo Ministério dos Direitos Humanos, após receber um convite para que integrasse o Comitê de Prevenção e Combate à Tortura do estado do Amazonas, cargo que ainda não tomou posse oficialmente. Procurada pelo GLOBO, a pasta de Silvio Almeida afirmou que o “ministro e nenhum secretário se reuniu” com Luciane, mas ainda não se manifestou sobre o possível custeio da viagem.

— Ainda não tomei posse (no comitê) e nem sei se vou conseguir tomar, devido a toda essa repercussão nacional no nome da minha pessoa — pontuou.

As manifestações ocorreram depois de o Estadão revelar que Luciane esteve com secretários de Flávio Dino, mas seu nome não foi registrado na agenda oficial. Ela é mulher de Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas, chefe da facção amazonense, e, segundo o Ministério Público, desempenhou um papel essencial na ocultação de valores do tráfico movimentados pelo marido.

— Ela (a juíza) não pediu que eu fosse recolhida, não pediu o meu mandato de prisão. Isso quer dizer que eu não estava impedida de entrar em lugar nenhum. Sou brasileira, cidadã e tenho o direito de ir e vir — disse Luciene ao comentar condenação em segunda instância por ligação com o tráfico.

Sobre a reunião com o secretário de Assuntos Legislativos do ministério da Justiça, Elias Vaz, Luciene disse que foi entregar um dossiê sobre as condições do sistema prisional no Amazonas e que não falou especificamente sobre o caso do marido, preso desde dezembro de 2022. Clemilson, de 45 anos, foi condenado em outubro deste ano a 31 anos e 7 meses de prisão por associação ao tráfico de drogas, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Ele chegou a ser considerado um dos criminosos mais procurados do Amazonas antes de ser capturado.

— De fato, ele não sabia quem era o meu esposo, porque no momento isso não vinha ao caso. Estava lá como presidente de uma instituição — justificou Luciane, que falou aos jornalistas ao lado da advogada Janira Rocha, responsável por marcar a reunião no ministério.

Após a repercussão da ida da “dama do tráfico” ao Ministério da Justiça, o órgão publicou uma portaria alterando as normas de acesso à sede da pasta. Foram adicionados três novos itens às regras. A primeira determina uma antecedência mínima de 48 horas para que todos os que participarão de reunião ou audiência sejam identificados, sendo obrigatório informar o CPF. A lista com os participantes deve ser enviada por email.

Flávio Dino comentou o caso nas redes sociais e afirmou que nunca recebeu líderes de facção em seu gabinete. “Nunca recebi, em audiência no Ministério da Justiça, líder de facção criminosa, ou esposa, ou parente, ou vizinho. De modo absurdo, simplesmente inventam a minha presença em uma audiência que NÃO SE REALIZOU em meu gabinete. Sobre a audiência, em outro local, sem o meu conhecimento ou presença, vejam a história verdadeira no Twitter do Elias Vaz (secretário do ministério). Lendo lá, verificarão que não é o que estão dizendo por conta de vil politicagem”, postou nas redes sociais.