Apesar de todas as variações estarem dentro da margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou menos, os números indicam uma tendência negativa da opinião pública em relação ao Executivo federal neste primeiro semestre de governo. Em março, no primeiro levantamento feito pelo instituto, 17 pontos percentuais separavam os grupos dos satisfeitos e o dos insatisfeitos. Hoje, na pesquisa que foi às ruas entre 1º e 5 de junho, essa distância está em nove pontos. Com informações do O Globo.
Os sinais desfavoráveis surgem em meio à crise do governo com o Congresso e a dificuldade de formar uma base aliada. Por outro lado, vêm acompanhados de indicadores positivos na economia, como o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre e a desaceleração da inflação. O programa do governo para baixar o preço dos carros populares foi anunciado no dia 5, o último em que os pesquisadores do Ipec estiveram nas ruas, portanto só uma faixa residual dos entrevistados respondeu ao levantamento com essa notícia em mente — embora o plano de reduzir preços dos carros já estivesse espalhado.
— Essas oscilações podem decorrer de uma acomodação natural da avaliação do início de governo, do ajuste entre desejo e percepção. Além disso, apesar de termos alguns indicadores econômicos positivos recentemente, seus efeitos podem ainda não terem sido percebidos na prática pelos eleitores — analisa a CEO do Ipec, Márcia Cavallari.
No Nordeste, única região onde Lula teve mais votos que Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições, a taxa de aprovação ao governo recuou de 55% para 45% desde abril. Ainda assim, os moradores da região permanecem como o segmento que mais avalia a gestão Lula 3 como “boa” ou “ótima”. O maior percentual de avaliações “ruim” ou “péssima” foi registrado nas regiões Norte e Centro-Oeste: 33% — eram 21% há dois meses.
O eleitorado mais pobre, que vive mensalmente com até um salário mínimo, é o que mais aprova o governo Lula (43%), mas também nesse nicho houve variação negativa: eram 53% em abril. Na parcela mais rica da amostra, com ganhos acima de cinco salários mínimos por mês, o percentual de “bom” e “ótimo” trilhou o caminho oposto: oscilou de 30% para 36%.
Para a professora de ciência política Mayra Goulart, da UFRJ, nem tudo é negativo para o Planalto. Ela destaca que, no nicho dos que recebem de dois a cinco salários mínimos por mês na família (28% da amostra da pesquisa), Lula tem hoje 70% de “bom”, “ótimo”, ou “regular”. Essas avaliações totalizavam 61% no levantamento anterior. Desde que assumiu, Lula tem encomendado a seus ministros iniciativas para alcançar brasileiros dessa prateleira econômica, como medidas para baixar as taxas de juros do cartão de crédito a condições especiais para empréstimos bancários.
— É um quadro de relativa estabilidade. Lula está perdendo onde pode perder, em camadas mais pobres, que não têm se demonstrado propensas a votar em um candidato antipetista. E está conseguindo atrair o segmento que ganha entre dois e cinco salários, no qual estão trabalhadores precarizados e autônomos, que antes estava muito associado ao bolsonarismo.
A pesquisa Ipec/OGLOBO mostra ainda que 53% aprovam a maneira como Lula está governando o país, enquanto 40% desaprovam. Diferentemente da avaliação do governo, a pergunta é dicotômica: só permite que o entrevistado diga se aprova ou desaprova, dando menos margem para aqueles que estão em cima do muro. As opiniões podem não estar tão claras quanto na escala de “ótimo” até “péssimo”, mas exibem as propensões do eleitorado neste momento.
A aprovação de Lula oscilou quatro pontos percentuais desde março, quando 57% diziam aprovar o jeito que o petista administra o país. Já a desaprovação aumentou: foram cinco pontos, passando de 35% para 40% em três meses. Aqueles que não sabem ou não quiseram responder somam agora 7%.