Uma das melhores interpretações acerca do Brasil é a de “os donos do poder” de Raimundo Faoro, pouco lida senão quase nunca lida pelos estudantes de História e de humanidades que hoje em dia se ocupam apenas de curiosidades sobre os oprimidos. A inconveniência talvez deste texto é o fato dele ser de difícil leitura e de promover uma explicação complexa dos problemas políticos e econômicos do Brasil. Não se utiliza de nenhuma terminologia marxista, especialmente aquelas por demais simplistas.
A aplicação deste texto no tempo presente é importante para compreendermos o Brasil de hoje, de agora. A centralidade do poder em nosso país resulta da própria centralização da colonização portuguesa. Mesmo os poderes regionais sempre tiveram por objetivo ressaltar a política do governo central, vide “coronelismo, enxada e voto”, outro livro pouco lido hoje em dia. A relação existente é a mesma de hoje: o PT só consegue se afirmar no poder através da submissão e troca de favores com as forças regionais, fortemente representadas pelo PMDB e outros partidos.
Este é o típico maquiavelismo político brasileiro, e só assim se pode governar por aqui já que tudo depende de compra de votos e isso é uma tarefa regional. Não é que nessa narrativa o PT seja inocente, como presumem alguns, mas que objetivamente se submete para consolidar-se no poder. Todos fizeram isso e farão. Assim o PT confunde o poder com patrimonialismo e a cordialidade prevalece nas trocas de interesses e tráficos de influência. Lula acha que dar uma força aos negócios dos amigos não é crime de tráfico de influência: ele é inocente por que foi formado para ser formalmente denominado de ladrão.
Como reflexo de tudo temos um sistema político defasado, atrasado. E como diz Marco Antônio Villa, odiado pelos Petistas e nunca lido por eles mesmos, o PT é apenas um governo conservador das estruturas sociais arcaicas brasileiras, ao contrário do que pensam os progressistas. A corrupção endêmica nos quadros do PT e generalizada na burocratização que tal partido promoveu nos últimos anos, fez com que a corrupção já existente aumentasse de tamanho. O que seria deles se não fosse as atividades ilícitas? Não estariam lá provavelmente.
A desvalorização dos salários – mesmo aumentando-os – e o aumento dos impostos é o resultado direto da corrupção gerada por este governo conservador. A inflação também resulta de uma má política econômica. Os monopólios empresarias com negociatas com o governo não permitem que haja algum tipo de inciativa privada; na realidade eles abominam a autonomia e só estão “empoderados” porque limitam o campo de ação dos indivíduos. São realmente autoritários e antidemocráticos na prática e não apenas no discurso. Veja o que eles estão fazendo nas Universidades por exemplo. A opinião intelectualizada de hoje é totalmente dominada pelo “esquerdismo hipócrita”, ou seja, defendem os mais pobres por mera bondade. O que fazem por eles então?
A corrupção é assim um imposto a mais na vida cotidiana do cidadão. Ela é o azeite da engrenagem burocrática como diz Nathaniel Leff em “Subdesenvolvimento e desenvolvimento no Brasil”. O clientelismo e a ineficiência estatal são formas de gerar mais propina e mais corrupção. É um sistema complexo e burocratizado. E como diz Max Webber, num regime burocrático é quase impossível qualquer mudança quem dirá revolução, como pregam nossos comunistas.
*Tiê Félix é professor