Artigo – Fidel, para além do senso comum – por Jefferson Abraão*

Mário Flávio - 29.11.2016 às 11:34h

Com o anúncio da morte de Fidel Castro, surgiram uma enxurrada de opiniões sobre a trajetória do líder político cubano. Na grande maioria dos casos, são opiniões que não ultrapassam as fronteiras do senso comum, dando uma abordagem maniqueísta à figura de Fidel. Na verdade, o caminho mais indicado é o que analisa Castro em perspectiva histórica, situando-o no contexto mais amplo de organização do processo revolucionário que teve como desfecho a tomada do poder em primeiro de janeiro de 1959.

Nesse sentido, faz-se necessário lembrar que, em 1921, Cuba passou por uma crise econômica devastadora em função da queda nos preços do açúcar, principal produto de exportação do país àquela época. Nesse momento, milhões de dólares, em forma de empréstimo, foram concedidos pelos Estados Unidos como forma de reerguer a economia cubana. Como contrapartida, a partir desse momento, o governo yankee passou, na prática, a comandar os rumos da economia e da política em Cuba. Para se ter uma ideia do nível de interferência, a Companhia de Gás cubana era presidida por um assessor do presidente Eisenhower; Vale ressaltar, ainda, que cerca de 47% das terras destinadas ao cultivo da cana-de-açúcar pertenciam à engenhos estadunidenses. 

Do ponto de vista da situação do povo, o governo ditatorial de Fulgencio Batista, que tomou o poder em 1952, convivia com índices alarmantes de analfabetismo e desemprego; em 1958 metade das crianças cubanas não estavam matriculadas na escola básica. Além disso, faltavam hospitais e medicamento para a população.

Nesse cenário de agravamento da situação social e de total submissão de Cuba aos Estados Unidos, o clima de insatisfação começa a crescer e a população passa a reagir. Greves, protestos e agitações se intensificam pelo país. É nesse contexto que surge um jovem estudante de direito disposto a organizar os setores insatisfeitos com a ditadura de Batista, formando o Grupo 26 de Julho e passando à ação política através da tentativa de tomada do Quartel de Moncada. O governo ditatorial reprime o movimento, prendendo suas lideranças, mas não consegue conter a revolta popular, agora encarnada no grupo liderado por FIDEL, que, ao saírem da prisão, retornam em 1959 para tomar o poder e iniciar o processo revolucionário. Desse momento em diante, Cuba passa a ser território livre do imperialismo estadunidense.

Dois anos após a chegada dos barbudos ao poder o analfabetismo foi erradicado na ilha, uma ampla reforma agrária realizada e um poder popular consolidado. Fidel Castro teve papel de destaque nesse processo, por saber canalizar a revolta popular contra o governo de Batista. No entanto, a revolução cubana é uma obra coletiva, construída e mantida pelo próprio povo de Cuba, que sempre reconheceu em Fidel o seu grande líder. Ao contrário da verborragia conservadora que permeia o senso comum, Fidel não foi um ditador, pois apenas liderou uma revolução construída e mantida pelo povo. Também não é um herói, é um líder! E a história comprova isso!

Cuba pode não ser tudo que seus idealistas dizem, mas também não é o que seus inimigos professam de maneira desonrosa, leviana e arbitrária. E quanto a valoroso Comandante FIDEL, um revolucionário que lutou junto com seu povo para criar uma pátria livre do imperialismo, da miséria e da ignorância. Dedicou sua vida a essa causa e o fez com muita bravura. Esse é o Fidel Castro que está para além do senso comum. Esse é o Fidel que a história absolveu. Descanse em paz, comandante!

*Jefferson Abraão, membro do Partido Comunista Brasileiro – PCB Caruaru