Eriberto Florêncio (30/70/1972 – 31/01/1999) foi um jovem revolucionário e como tal não conheci outro que me influenciasse tanto seja através de suas palavras e de atitudes. Repórter dedicado, militante disciplinado, temperamento forte e explosivo que contrastava com a sensibilidade em relação as necessidades dos outros. Seu doce sorriso e lágrimas orvalhavam facilmente seus olhos diante de cenas de injustiça e desigualdade. Em sua curta existência de vida produziu relevantes ações nas áreas do jornalismo e da militância política.
São 16 anos desde sua trágica partida. Deixou para muitos exemplo de um profissional dedicado e quando obstinado por algo, ia até as últimas consequências. Eriberto era filho único, por parte de mãe (Julieta Bezerra Florêncio), sempre gostou muito de rádio iniciando ainda adolescente em diversas tarefas na Cultura do Nordeste (no antigo prédio da emissora que funcionava próximo da agência do banco do Brasil), operando audio (discotecário ou controlista eram termos da época). Aos 15 anos foi para Presidente Prudente, São Paulo, onde passou a trabalhar como repórter no Jornal Imparcial. Logo seus textos ganhavam destaque tanto pelo público como pelos editores. A qualidade de suas reportagens o levava sempre para primeira página.
Foi neste período que fazendo matérias sobre as ocupações do Movimento Sem Terra (MST) e passou a conhecer membros da direção nacional como o Zé Rainha. Aos 18 retornou para Caruaru voltando a contribuir com a imprensa local. Apesar de jovem, já tinha certa experiência e logo foi atuar em jornais como Página Aberta, Vanguarda e Jornal do Commercio.
Muito estudioso, lia e incentivava a leitura e o estudo de textos políticos e filosóficos. Sua militância política no meio estudantil evoluiu para lutar em favor dos camponeses sem terra, foi assessor de diversos líderes parlamentares do campo de esquerda do PT (Partido dos Trabalhadores) e ajudou na organização de diversas campanhas. Como repórter sempre se aprofundava em suas matérias investigando a fundo denuncias de injustiças, inclusive abuso do segmento patronal. Era ameaçado por jagunços a serviço de latifundiários, além de causar desconforto na oligarquia local. Foi exemplo vivo para mim das coisas que dizia crer, veio através dele o meu contato e conhecimento com a luta dos trabalhadores rurais do MST ainda nos primeiros anos de sua organização aqui. Tive os primeiros contatos com o PT na região e em Recife fizemos diversas atividades de militância política para o partido, entre elas a que mais me marcou foi quando me apresentou Jader de Andrade, dirigente histórico do PT regional, que faleceu em 1998.
ALÉM DO TEMPO…
Um pouco menos…
Um pouco mais…
Vivem aqueles que não lutam.
Mas os que lutam,
Não são medidos pelo tempo;
Nem mais, nem menos:
São eternos.
Perdem as gerações que no agora choram;
Ganham as gerações que os tomam como exemplo.
Exemplos são inventos;
São construções de crenças;
São invenções intensas
De brigas e utopias.
São demonstrações de rebeldia
Que ninguém impede o surgimento.
São contradições e movimentos
Que levam cada qual a ser sujeito
No destino coletivo,
Onde cada um faz uma parte
Como uma obra de arte
Que fica para ser admirada e continuada.
Quem luta sempre fica
Quando se modifica.
O corpo físico torna-se uma lembrança;
O nome, uma mensagem de esperança;
E a convivência, uma bela saudade.
Como a semente caída
Continuam tendo vida
Os que fazem a liberdade.
O pranto companheiro
Visitará muitas faces
Despencará sem receio
E regará a força que nasce.
Ligará nossos afetos
Sedimentará o concreto
Da construção de um valor;
Que é a solidariedade
Que sustenta a humanidade
Na grande causa do Amor.
Com este poema de Ademar Bogo resgato a memória do companheiro Eriberto. Registro esta homenagem com muita honra recordando um homem sensível a dor do povo e que vive em nós em forma de saudade.
Além do tempo, Eriberto Florêncio: presente, presente, presente!
*Paulo Nailson é colaborador.