A virada de chave no governo Raquel Lyra

Mário Flávio - 23.03.2025 às 12:40h

Demorou, mas começou. O governo Raquel Lyra, que por muito tempo apostou em um discurso técnico e de “gestão pura”, enfim gira a chave e entra de vez no jogo político. Os últimos movimentos da equipe do Palácio das Princesas não deixam dúvidas: a articulação ganhou protagonismo e os acenos partidários começam a se consolidar em nomeações estratégicas.

A mais simbólica delas foi a mudança no comando da Secretaria de Turismo. Sai o perfil técnico, entra o deputado estadual Kaio Maniçoba (PP), político experiente, com trânsito em diferentes regiões do estado e no Congresso Nacional. A nomeação é uma mensagem clara de que, daqui para frente, o governo quer e precisa ter aliados com peso político real — não apenas especialistas de currículo robusto.

Outro movimento importante foi a entrada do ex-prefeito Manuca como secretário de Desenvolvimento Profissional e Empreendedorismo. A nomeação, além de abrir espaço para um nome testado nas urnas, traz o partido Avante para dentro da gestão, em uma costura articulada com o ex-deputado federal Sebastião Oliveira. É mais um tijolo na reconstrução da base que Raquel.

Nesse mesmo sentido, a missionária Michelle Collins, ex-vereadora do Recife, foi anunciada como nova gestora da Arena de Pernambuco. A escolha tem peso simbólico e político: é mais um aceno direto ao PP e ao eleitorado evangélico, base relevante e estratégica em Pernambuco. Michelle, que já teve forte atuação no segmento religioso, reforça a presença de lideranças conservadoras na estrutura do governo.

E por falar na Alepe, os sinais de aproximação também se intensificam. O governo começou a se movimentar para garantir sustentação política onde antes havia distância e ruídos. A articulação, antes tímida e criticada até por aliados, dá sinais de que vai ocupar o centro da estratégia para a segunda metade do mandato.

Fechando esse pacote político, a nomeação de Miguel Duque para a presidência do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA) chama atenção pelo sobrenome. Filho do deputado estadual Luciano Duque, Miguel disputou a prefeitura de Serra Talhada no ano passado e, agora, se projeta dentro do governo estadual. A leitura é óbvia: Raquel busca afinar pontes com o Sertão e, de quebra, aproxima um nome ligado a uma liderança influente do interior.

A gestão técnica não foi abandonada, mas ficou claro que, sem base política, não se governa. O governo Raquel Lyra entendeu isso e agora se movimenta para construir sustentação e entregar resultados com respaldo político.

É o início de uma nova fase. O tempo da política, enfim, começou.