No futebol, pipocar é o verbo usado quando o craque some na hora da decisão — aquele momento em que se espera coragem, mas o que se vê é hesitação. Na política, o episódio mais recente protagonizado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), oferece uma metáfora perfeita.
Nesta quinta-feira (24), Moraes decidiu não converter em prisão preventiva a quebra de medida cautelar cometida por Jair Bolsonaro. O ex-presidente está proibido de usar redes sociais, direta ou indiretamente. Ainda assim, participou no domingo (20) de uma live transmitida nas redes do PL, partido ao qual é filiado. A defesa de Bolsonaro foi intimada a prestar esclarecimentos, mas o ministro considerou que houve apenas uma “irregularidade isolada”.
Para quem vinha adotando uma postura dura diante do bolsonarismo, a recuada de Moraes surpreendeu. No despacho, o ministro reconhece o descumprimento da decisão, mas opta por aplicar apenas uma advertência. Diz que, se houver novo episódio, a prisão preventiva será decretada “imediatamente”. Mas a promessa de rigor futuro não apaga a sensação de que, neste lance, Moraes evitou a dividida.
O próprio ministro admite que Bolsonaro tentou usar a brecha das entrevistas para seguir pautando o debate público e, por tabela, as redes. Moraes afirma que a proibição de usar redes sociais não se estende a discursos e entrevistas, desde que respeitem os horários da medida cautelar. Mas faz um alerta: essas manifestações não podem ser usadas como “material pré-fabricado” para publicações por terceiros. O problema é que foi exatamente isso o que aconteceu.
A decisão tem um gosto de incoerência para setores que defendem um enfrentamento mais firme ao bolsonarismo. A “irregularidade isolada” é, na prática, um teste de limites — o típico drible que o ex-presidente usa para desafiar as instituições. Diante dele, Moraes, pela primeira vez em muito tempo, hesitou.
E pipocou.
