Há quase dois anos estava muito animado com a ideia de escrever sobre a falta de cuidado do poder público municipal, do legislativo municipal e da ausência do Instituto Histórico de Caruaru para com a preservação dos espaços e lugares históricos da cidade. Nunca escondi de ninguém minha paixão pela cidade, pela sua história local. Lembro que na faculdade por repetidas vezes eu e o amigo e Prof. Alan Nascimento tratávamos com lamento da situação dos espaços, construções e prédios que guardam um pouco da História da cidade. Em 2012, procurei alguns personagens locais que tem forte atividade na preservação de nossa história local, mas especialmente um famoso professor que no campo da academia desenvolveu durante sua vida várias iniciativas, pesquisas sobre a história da cidade e do Agreste para saber sobre a atuação do Instituto Histórico de Caruaru que é comandado pelo insigne ex-prefeito de Caruaru, Anástacio Rodrigues.
O que observo é que nos últimos 10 anos a cidade tem enfrentado um processo acelerado de destruição de construções, locais e espaços históricos; alguns remontam as décadas de 1930, 1940, e 1950, construções que em alguns casos tem resistido heroicamente. Há algun dias estava próximo a Praça do Rosário e vi duas construções dá década de 1930, estarem em completo fim de destruição ocasionado pela onda de construções de lojas, levou a destruição de sua arquitetura, sem contar os inúmeros cortiços próximos aos Guararapes, sem contar com as residências antigas da rua Djalma Dutra próximo ao Colégio Sagrado Coração, na Av. Rio Branco existem muito poucos espaços antigos, próximo a Antiga Fabrica Caruá (Espaço Cultural Tancredo Neves) pude ver que ainda resistem heroicamente algumas poucas residências com suas fachadas desenhadas, principalmente próximas a Escola Estadual Vicente Monteiro, casas que talvez lembre a época que a cidade mergulhava nos modismos e nos costumes franceses, pois é leitores para quem não sabe até escola de francês tivemos, era pomposo na época. E o que dizer da rua dos cabarés onde se deleitaram na boemia a juventude da cidade na metade do século XIX, tornou-se irreconhecível.
Referi-me ao centro de Caruaru, mas o que dizer dos primeiros núcleos de povoamento na área rural do munícipio, se a situação de calamidade e de descuido instaurou-se no centro o que dizer da historia, e referências aos quatro distritos de Caruaru, cada um deles com suas especificidades e particularidades, um exemplo é o da Vila do Juá terra de minha família o que lembra a época da produção de Algarves, Cal, e Algodão? Outro dia minha avó me falava dos tempos em que meu bisavô estocava algodão, no último dia de finados estava por lá no cemitério de 1905, cemitério que guarda o herói “Antônio Nicácio” dos contos de cordel que desafio nada menos que o cangaceiro Antônio Silvino, isso mostra o quanto é riquíssima nossa historia local.
É lógico que não estou na utopia que o poder público vá resgatar documentos, fontes, registros isto é papel dos historiadores, já fico aliviado e feliz porque alguns de meus colegas tem se interessado apaixonadamente pela historia local, no II Distrito, na Vila do Juá, só para mencionar o amigo e estudante de História Jardiael Nogueira tem procurado resgatar traços dessa história que me referi, assim como outros como o amigo Denis William que tem buscado estudar períodos importantes da historia da cidade como, por exemplo, a participação de caruaruenses na II Guerra Mundial, é leitores, se você não sabe tivemos muitos caruaruenses que foram a Europa lutar junto aos Aliados, Caruaru foi centro de treinamento de soldados, os “pracinhas” como ficaram conhecidos, inclusive tivemos por muito tempo “Clube de Pracinhas”, que se localizava no centro e reunia ex-combatentes. O problema é que os que administram a cidade sequer fomentam ou prestam efetivo apoio há um universitário que deseja desenvolver qualquer projeto científico que tenha a cidade como foco de pesquisa.
Há um ano e meio fazia caminhada com colegas da faculdade visitando os 5 museus que existem na cidade (Museu do Barro, Museu do Forro, Museu da Fabrica Caruá, Museu do Cordel e o Museu Memorial de Caruaru), e refletia para necessidade de irmos além da cultura dos museus, a situação de nossa cidade que esta ficando sem traços de sua história, o que diria o famoso Nelson Barbalho, que uma vez em suas ultimas vindas a Caruaru, já próximo a década de 1990, dizia que a cidade estava irreconhecível, já não era a cidade tão descrita pelo autor.
A paisagem da cidade lega atualmente a população poucos referências e símbolos. Quais são as marcas arquitetônicas, os monumentos deixadas pelo tempo à cidade? Me coloco a pensar como será a Caruaru de meus filhos, daqui a 20 anos? As repostas não são nada positivas, basta notar os estragos, os males deixados pelo crescimento desordenado da cidade e no passo que caminhamos o desastre será ainda maior. Não sei se os leitores já observaram no centro de Caruaru o número grandioso de fachadas antigas cobertas pela propaganda comercial, uma lástima; como cidadão, como historiador e caruaruense apaixonado fico com a alma “duida”, como diz o matuto. E no ritmo que vamos não haverá tantos monumentos no centro que venham a lembrar a sociedade sobre os tempos celebres que já viveu a cidade.
Observo também que o poder público, mas especialmente as administrações municipais que passaram pelo Palácio Drayton Nejaim, ou estão gestando a cidade promoveram a destruição da arquitetura da cidade, lembremos-nos de dois casos: a destruição das antigas muretas que deixavam a antiga Estação Ferroviária com tons de época, isso na gestão Tony Gel; hoje na gestão Zé Queiroz a estação esta quase irreconhecível, escondida pelas construções temáticas de madeira, que diga-se de passagem, favoreceram muito mais aos empresários dos bares e restaurantes que se instauram ao largo dos antigos trilhos, talvez migrando da antiga Vila do Forró que a população deve lembrar também foi destruída. O que dizer do Hospital São Sebastião que teve sua fachada original destruída, e se não fosse o apelo de membros do Instituto Histórico de Caruaru o prejuízo teria sido ainda maior há um prédio que data da década de 1930.
Esses trilhos que estão hoje abaixo dos asfaltos, ou entregues a ferrugem, lamentável para quem viu o trem passar, caminhos que tanto trouxeram riqueza e crescimento para cidade durante e desenvolveu importante papel para a economia do Agreste na época da produção de algodão. Quase me esqueço de mencionar a estação até grama ganhou em algumas áreas. Não tenho um saudosismo torpe, só sentimentos aflorados. Nunca me esqueci dos fins de semana ainda criança na casa de minha avó na Vila Kenedy, achava fantástico e de forte emoção ver o trem passar e só o vi poucas vezes ainda no fim de suas vindas a Caruaru era a metade da década de 1990.
Alguns questionamentos podem ser levantados, alguns deles mostram a pobreza das discussões em Caruaru, nosso legislativo em muitos momentos produz casos cômicos, eu mesmo sempre acompanho as sessões e é uma tragédia confecção de projetos, requerimentos e indicações. Sobre esta minha preocupação, já procurei membros do poder legislativo e a indiferença com o tema é uma lástima. Existem soluções, que inclusive tem dado certo em outras regiões do país. Exemplo disso é que nosso empresariado poderia caminhar junto com a preservação desses espaços se houve incentivos da administração municipal, agora como? Se o mínimo que temos é uma lei de redução fiscal que tive conhecimento através de um vereador da cidade que lega redução de impostos aos empresários e donos de lojas que mantiverem as fachadas históricas de seus prédios preservadas.
Caruaru anda na contramão das cidades medias do país que tem acompanhando as discussões sobre a preservação da Memória local, da promoção de políticas que viabilizem a participação dos cidadãos em espaços reservados a guardar a historia local, bem como o fomento do turismo histórico. A maioria destes tópicos tem sido acompanhada pela criação de leis municipais e aprovação de legislações municipais de preservação e proteção de espaços, monumentos, construções históricas. Eu particularmente durante este ano quero me esforçar no sentido de junto a professores, historiadores, Instituto Histórico de Caruaru e outras entidades estudantis contribuir com o fomento da discussão sobre a preservação dos espaços históricos que ainda existem, quero inclusive convidar os amigos, leitores, amantes de nossa história, a colaborarem com esse processo, é uma bandeira urgente a de constituirmos através de lei, legislação municipal como já existe em outros munícipios do país, que venha proteger, preservar e fomentar a consciência para com a história da cidade. Estou para nos próximos meses iniciar pesquisa para registrar, catalogar e fazer breve levantamento da situação destas construções históricas que pelos meus cálculos somam 30 construções, só no centro da cidade!
*John Silva – É professor formado em História pela FAFICA, Presidente da Associação dos Moradores do Severino Afonso, Presidente da JPSD Pernambuco e ex-líder do Centro Acadêmico de História Luzinete Lemos.