Da Folha
Figura marcante da oposição ao regime militar em 1984, o então deputado Ulysses Guimarães, que presidia o PMDB, respirou aliviado ao ver as dezenas de bandeiras tremulando na Boca Maldita superlotada, no centro de Curitiba. “Começamos triunfalmente”, festejou no palanque arrumado às pressas, 30 anos atrás, para o primeiro comício das Diretas-Já. O movimento pedia o fim da ditadura militar e a volta das eleições diretas no País.
Cerca de 40 mil pessoas estavam na praça naquela quinta-feira, 12 de janeiro, para surpresa de Ulysses, dos governadores Tancredo Neves (MG), Franco Montoro (SP) e José Richa (PR), do animado locutor Osmar Santos também dos militares. No dia seguinte, uma multidão semelhante lotou o centro de Porto Alegre. Duas semanas mais tarde, a Praça da Sé, em São Paulo, foi tomada por cerca de 100 mil pessoas. Exausto, atolado na inflação, o regime militar, velho de 20 anos, assistiu por três meses à animação das Diretas-Já se espalhar pelo País. Um ato no Rio de Janeiro e outro no Anhangabaú, em São Paulo, reuniram aproximadamente 1 milhão de pessoas.
O movimento sofreu um golpe mortal três meses depois, em 25 de abril, quando a emenda constitucional que propunha eleições diretas foi derrotada no Congresso: precisava de 320 votos e só conseguiu 298. A campanha, no entanto, fixou o momento em que as oposições passaram ao ataque contra um governo que não sabia como reagir. Um ano depois do comício de Curitiba, em 15 de janeiro de 1985, Tancredo Neves era eleito presidente por um colégio eleitoral. A ditadura acabava.