Opinião – Aos que acreditam que o tempo é “ágora” – por Paulo Nailson*

Mário Flávio - 26.07.2013 às 13:25h

Há diversas formas de se ouvir o clamor do povo e transformar esse clamor em leis e projetos que desemboquem em ações práticas, o processo de experimentação e implantação do Orçamento Participativo em Caruaru, ainda que longe do ideal, é um deles, as Conferências também.

Desde a primeira Conferência, das Cidades, até as que estamos vivenciando agora, Cultura e a de Promoção da Igualdade Étnico-Racial, com todas as suas variantes, vamos exercitando uma forma de fazer política inversa da que predomina. É um processo desgastante, cansativo e muitas vezes semelhante ao das ondas que avançam ganhando volume e aparentemente se desmancham em espumas na beira da praia. Por isso tantos desistem e desanimam. Outros voltam sorrateiramente por baixo e quando menos se espera uma nova onda é formada e impulsiona ideal e idéias.

A prática do diálogo respeitoso não exclui a possibilidade do controverso. E muitas vezes é exatamente o contraponto que nos impulsiona para caminhos mais corretos. Ela aparece na crescente participação popular em fóruns, seminários e debates com finalidade de repensar e reforçar a participação do povo nas decisões pequenas ou grandes, envolvendo público do governo e majoritariamente (de preferência) a sociedade civil, organizada e, o exemplo da Ágora vai detalhar melhor esse modelo.

A Ágora era o nome que se dava às praças públicas na Grécia Antiga e nelas ocorriam reuniões onde os gregos, principalmente os atenienses, discutiam assuntos ligados à vida da cidade (Pólis). A calmaria que às vezes se instala e acomoda não consegue impedir que, em silencio, em quietude, haja um novo levante popular, pois enquanto houver mentes inquietas haverá em algum lugar sementes de uma nova revolução.

Quem sabe um dia haverá parlamentares escolhidos por demandas e não por mandato. Com conselheiros municipais atuantes e onde as decisões do povo nas plenárias, conferências, fóruns, sejam organizadas, encaminhadas e executadas.

Mas para revolucionar não é necessário apenas a revolta e indignação com o erro, nem só lutar pelo justo e belo, tem de se estar liberto de amarras e forjar o novo diariamente. Estamos no processo, que quase sempre nos quedam, mas não impedem que outros avancem.

Há um poema de Ademar Bogo que fala sobre os exemplos:

“Exemplos são inventos;
São construções de crenças;
São invenções intensas
De brigas e utopias.
São demonstrações de rebeldia
Que ninguém impede o surgimento.
São contradições e movimentos
Que levam cada qual a ser sujeito
No destino coletivo,
Onde cada um faz uma parte
Como uma obra de arte
Que fica para ser admirada e continuada.”

Esta semana a coluna é dedicada a Cleyton Feitosa e aos que acreditam que o tempo é “Ágora”. Sua luta e dedicação é uma inspiração pra mim. Apesar de todas as limitações e dificuldades previstas e imprevistas, conseguimos incluir outros atores nesse processo histórico de mudanças, pois o novo sempre vem!

MUBAC E AS CONFERÊNCIAS

O Museu do Barro tem sido palco de muitas destas reuniões de consulta e preparações. Hoje além da Pré-Conferência Igualdade Racial Negros/as GLBT, tem à noite a Conferência Livre de LITERATURA.

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) aproveitou a vinda do papa Francisco ao Brasil e enviou uma carta o convidando para conhecer a realidade das comunidades rurais no país. Juntamente com a CPT, outras quatro pastorais do campo também assinaram o documento, que teve como intermediário o presidente da CPT, Dom Enemésio Lazzaris. Um trecho da carta diz: “Irmão Francisco, cada vez que o ouvimos falar que a igreja deve sair de dentro de suas estruturas e estar ao lado dos pobres para ouvir seus clamores e sentir de perto seus sofrimentos, nos sentimos apoiados e fortalecidos em nosso trabalho e em nossa Missão que é a missão samaritana de ajudar a que os caídos se levantem e caminhem por si, a que os oprimidos ergam a cabeça reconhecendo sua dignidade de filhos e filhas de Deus.

Para refletirmos:

“Não importa se a sua situação pareça impossível, tenha fé e coragem, pois o poder de Cristo em sua vida pode satisfazer todas as suas necessidades mais profundas e renovar todas as suas esperanças.” Samuel Couto.

*Paulo Nailson é dirigente político com atuação em movimentos sociais, Cursa Serviço Social. Membro da Articulação Agreste do Fórum de Reforma Urbana (FERU-PE) e Articulador Social do MTST. Edita a publicação cristã Presentia. Foi dirigente no PT municipal por mais de 10 anos.