A tensão política entre partidos que integram, formal ou informalmente, o campo da esquerda em Pernambuco veio à tona nesta terça-feira (17), na Assembleia Legislativa. O presidente estadual do PT, deputado Doriel Barros, usou a tribuna para cobrar a votação urgente do projeto de lei que autoriza o Governo do Estado a contratar um empréstimo de R$ 1,5 bilhão. A matéria, enviada pela governadora Raquel Lyra (PSD), só deve ser apreciada após o recesso parlamentar, conforme deseja a bancada do PSB, o que provocou forte reação do petista.
Mesmo com o Partido dos Trabalhadores se posicionando como oposição à atual gestão estadual desde o início do mandato, Doriel e os também deputados petistas João Paulo Lima e Rosa Amorim têm votado favoravelmente a diversas pautas do Executivo. A atitude tem aproximado o PT da base governista na prática, embora a aliança ainda não tenha sido oficializada. Conforme apuração do Blog Dellas.
Durante seu pronunciamento, Doriel criticou o atraso na tramitação do pedido de crédito e disse estar sendo constantemente cobrado por obras de infraestrutura em suas bases eleitorais. “Se há possibilidade de o Estado conseguir empréstimo, esta Casa deve ajudar nisso e não atrapalhar. Deixar para o segundo semestre é um erro que espero que seja corrigido logo”, afirmou. Para o parlamentar, a Assembleia está sendo responsabilizada pelo atraso em obras, o que, segundo ele, desgasta a imagem da Casa.
Em tom direto, Doriel questionou: “Por que o Recife pode tirar empréstimo e Pernambuco não pode? Por que a Prefeitura aprova, como fez ontem, e nós aqui não? O povo está entendendo que é esta Casa que está segurando os empréstimos, e isso é muito ruim para nós”.
A resposta veio em seguida do deputado Waldemar Borges (PSB), relator do projeto de empréstimo. O socialista rebateu com firmeza, acusando o Governo do Estado de não executar obras mesmo com recursos disponíveis. “Não somos nós que estamos atrasando obras, mas a governadora. Vossa Excelência pergunte a ela por que as estradas não estão sendo feitas se há, nesse momento, disponibilidade de R$ 1,1 bilhão dos R$ 9,2 bilhões já autorizados em empréstimos”, afirmou. Borges classificou a gestão Raquel Lyra como “incompetente” e disse que ela “mente” ao alegar falta de recursos.
Doriel voltou à tribuna para rebater o socialista, afirmando que nenhum governador inicia obras sem ter os recursos assegurados em caixa. “É preciso ter recursos até para elaborar projetos. Se o Arco Metropolitano e a ampliação da BR-232 não puderem contar com este empréstimo, não serão feitos”, argumentou. E concluiu: “Se a governadora tiver os recursos e não fizer, a população vai cobrar a ela. Mas, se o empréstimo não sair, a cobrança vai ser feita aos deputados — e não vai ser por falta do meu voto”.
O embate expõe um incômodo crescente entre os partidos de oposição a Raquel Lyra quanto à condução do debate sobre o financiamento de obras estruturantes no estado. Também revela uma fissura no campo progressista da Alepe, especialmente entre petistas e socialistas, às vésperas de um segundo semestre que promete ser decisivo para a pauta econômica e para as articulações políticas de 2026.
