Coluna da quarta no blog do MF – Um governo cercado: Lula enfrenta sinais de erosão no Congresso às vésperas de 2026

Mário Flávio - 18.06.2025 às 07:46h

Faltando pouco mais de um ano para a eleição presidencial de 2026, o governo Lula começa a dar sinais cada vez mais visíveis de fragilidade no Congresso Nacional. Embora o Palácio do Planalto tente minimizar os últimos reveses, a sequência de derrotas acumuladas nesta semana desenha um cenário preocupante para a articulação política do Executivo.

A derrota mais simbólica talvez seja a aprovação do regime de urgência para o projeto que visa derrubar o decreto do governo que reonerou o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). O placar elástico da votação, somado ao discurso confiante de líderes do Centrão, sinaliza que a queda do decreto é apenas questão de tempo. Para além da medida em si, o episódio escancara a dificuldade do governo em manter coesão na base e enfrentar pautas de interesse direto da chamada “governabilidade via emendas”.

No Senado, o sinal de alerta também soou forte com a instalação da CPI do INSS, após leitura do requerimento por Davi Alcolumbre. Embora os trabalhos fiquem para o segundo semestre, o gesto tem peso político significativo: o PSD, partido da base de Lula, ficará com a presidência da comissão. Isso não impediu o governo de adotar o discurso de “danos controlados”, reconhecendo que não havia como transformar a repercussão em algo positivo — um argumento que, na prática, revela mais resignação do que estratégia.

Para tentar conter a sangria, o governo correu com a liberação de emendas. Em apenas cinco dias, os empenhos mais que dobraram e alcançaram R$ 256 milhões. Um valor expressivo para o curto prazo, mas que representa menos de 1% do total previsto para o ano. O movimento, ainda que corriqueiro em momentos de crise, escancara o grau de dependência que o Executivo tem do Congresso — e, sobretudo, do apetite do Centrão por mais espaço e mais recursos.

O episódio envolvendo os vetos de Lula à isenção de fundos de investimentos, que foram simplesmente derrubados, reforça o enfraquecimento da interlocução do Planalto. O argumento do governo de que os vetos tinham base constitucional foi ignorado pelos parlamentares, que preferiram manter as benesses aprovadas na reforma tributária.

Em suma, o governo Lula parece ter trocado o controle da agenda legislativa por uma administração reativa de danos. A um ano e meio das eleições, o sinal que emana do Congresso é claro: sem reforço político, o Planalto pode assistir à consolidação de uma maioria parlamentar disposta não apenas a pautar sua própria agenda, mas a reduzir cada vez mais a influência do Executivo.

A dúvida que paira agora é: até onde o governo está disposto a ceder para manter algum grau de estabilidade política — e se ainda há tempo para reconstruir pontes antes que o calendário eleitoral transforme crise em colapso.