A comunicação de Caruaru perdeu na noite dessa segunda-feira (26) um dos maiores nomes da crônica esportiva da história. Morreu Clóvis Gonçalves, o radialista que eternizou a frase “Quem pensar diferente, passe bem e seja feliz”. Ele estava internado num hospital no Recife e não resistiu após complicações.
Durante anos ele foi uma das maiores audiências e emprestou sua voz as principais emissoras da Capital do Agreste. Além de radialista era advogado e funcionário Público, Aposentado como Técnico Previdenciário da agência do INSS de Caruaru. Ele tinha 84 anos.
Abaixo trecho do livro “Amplitude Modulada – Os Locutores e o Rádio de Caruaru” do professor e jornalista Edson Tavares com a biografia do radialista.
Perfil – Clóvis Gonçalves da Silva nasceu na cidade de Toritama-PE, em 15 de março de 1939. Foi casado com Marluce de Araújo Silva, tem cinco filhos Carlos Alberto, Tatiana Maria, Aurea Fernanda, Marusa Milena e Clóvis Antonio (que, inicialmente, seguiu os passos do pai, na radiofonia, é também poeta e fez parte da Casa da Poesia de Caruaru, nos anos 80 – na oportunidade, Clóvis (pai) falou, em depoimento ao Jornal Capibaribe, de Santa Cruz do Capibaribe: “é a realização daquilo que eu sempre desejei realizar: ser poeta”).
Clóvis Gonçalves foi professor da CNEC (Campanha Nacional de Escolas da Comunidade, fundada pelo paraibano Felipe Thiago Gomes), atuando no Colégio Cenecista Prof. Heleno Torres, em Caruaru. Foi também advogado militante, funcionário público (hoje aposentado) como Técnico Previdenciário da agência do INSS de Caruaru. Além, naturalmente, de
radialista.
Começou no rádio em abril de 1955, depois de um teste para locutor comercial na Rádio Difusora de Caruaru. Inicialmente, exerceu a função de plantonista esportivo, mas, certa vez, estando no Estádio do Central, acompanhando a transmissão do jogo Comércio e São Paulo, pelo campeonato amador da cidade, o narrador oficial, Arnaldo Carvalho, anunciou-o de surpresa, para narrar o segundo tempo da partida, deixando Clóvis atônito; apoiado pelo então gerente da emissora, Luiz Torres, desincumbiu-se a contento da tarefa, sendo, a partir de então, escalado para a narração dos jogos.
Em 1957, Clóvis Gonçalves mudou-se para o Recife, a fim de concluir o curso Científico (hoje, ensino médio, iniciado no antigo Colégio de Caruaru, atualmente Colégio Diocesano); nesse ano, trabalhou por três meses na Rádio Clube, na capital pernambucana, sem receber salário; voltando a Caruaru no ano seguinte, para servir ao Exército, no Tiro de Guerra, atuou novamente na Difusora, além de fazer parte da equipe que inaugurou a Rádio Cultura do Nordeste, em agosto de 1958, antes mesmo de os “Irmãos Almeida” assumirem a emissora.
Fez vestibular para Direito, na Universidade do Recife (hoje Universidade Federal de Pernambuco), em 1959, deixando temporariamente o rádio para se dedicar aos estudos, somente retornando a Caruaru em agosto de 1965, já formado; na oportunidade, procurou a Rádio Liberdade, que estava sendo inaugurada, mas já haviam contratado como locutor esportivo Roberto Machado; na Rádio Cultura, recusou-se a fazer teste de locução, como solicitara o diretor da emissora; então, retornou à Difusora, em 1966, lá permanecendo a maior parte de sua longa carreira como radialista. Em 30 de novembro de 2011, encerrou sua carreira no rádio, tendo atuado também na Rádio Liberdade e finalizado na Rádio Cultura do Nordeste.
Teve destacada atuação como comentarista esportivo, sendo cognominado o da “Palavra Fácil”, sempre encerrando os abalizados comentários com o bordão “Eu entendo desta maneira; quem entender de modo diferente, passe bem e seja feliz!” Em entrevista para o Jornal Capibaribe (outubro de 1986), Clóvis afirmava que “é bem mais fácil narrar que comentar, já que o narrador se prende tão somente ao que se passa nas quatro linhas, enquanto que o comentarista precisa fazer uma sintetização dos 90 minutos, extraindo os melhores lances e analisando-os.
Além do mais, o comentarista coloca sua opinião, seu modo de pensar, o que não raro agrada a uns e desagrada a outros. Por outro lado, o narrador precisa ter fôlego e precisão no acompanhamento do lance.” Torcedor do Central Sport Club, Clóvis diz que sua única mágoa, nos mais de cinquenta anos de crônica esportiva caruaruense, é não ter sido devidamente reconhecido por nenhuma Diretoria do clube alvinegro de Caruaru.
Polêmico, era alvo de críticas, “inclusive de quem nem esperava”, o que lhe causou algumas tristezas, mas de que não guarda qualquer mágoa; prefere citar a gratidão para com o companheiro Davi Cardoso, que lhe estendeu a mão em um momento difícil de sua vida profissional.
Fã do grande seresteiro e boêmio Nelson Gonçalves, Clóvis, também seresteiro, já fez dueto com o cantor, em um show deste, no auditório da Difusora.
