A secretária de Saúde de Caruaru, Aparecida Souza, enviou mais uma nota criticando as declarações da candidata à prefeitura de Caruaru, Miriam Lacerda. Dessa vez, a secretária defendeu ainda que as deficiências detectadas pelo Ministério da Saúde na rede de atendimento público em Caruaru se devem a uma série de fatores históricos e contextualizados, que culminaram nas atuais condições da Saúde no município, remetendo a responsabilidade da atual classificação de Caruaru como a sexta pior saúde do Brasil à forma como essa infraestrutura foi gerida nas administrações de Tony Gel (DEM), marido de Miriam.
No contexto
Miriam: “As críticas à saúde são resultado da ineficiência dos serviços”
Confira a nota
Não quero polemizar, mas como cidadã, militante e estudiosa do SUS, política pública instituído pela Constituição Federal de 1988 como resultado da luta do movimento sanitário, a despeito da oposição dos representantes da direita na época, como o Presidente Fernando Collor de Melo, que tentou através de vetos presidenciais coibir a instituição dos Conselhos Municipais de Saúde e das Conferências de Saúde, não consigo silenciar diante da fragilidade dos argumentos usados pela candidata da direita para imputar à atual gestão a responsabilidade pela nota dada a saúde de Caruaru no IDSUS.
O processo saúde-doença é um processo dinâmico, complexo e multidimensional, no qual a saúde e doença de uma pessoa, de um grupo social ou de sociedades são decorrentes de um conjunto de fatores que englobam dimensões biológicas, psicológicas, socioculturais, econômicas, ambientais e políticas.
Pelo que podemos ver, a saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso a bens e serviços essenciais (Lei Orgânica da Saúde, 1990).
Portanto quando se avalia a situação de saúde de uma população necessariamente são realizadas análise de contexto e verificação de séries históricas de resultados, considerando que os achados encontrados serão resultantes da forma como se organizaram as ações e serviços de saúde e as redes de apoio social nos anos que antecederam o estudo.
Portanto cara candidata sinto lhe informar que os 08 (oito) anos de gestão do seu marido, Tony Gel, foram determinantes para a nota de Caruaru no IDSUS, índice criado pelo Ministério da Saúde que avaliou entre 2008 e 2010 os diferentes níveis de atenção (básica, especializada ambulatorial e hospitalar e de urgência e emergência) dos municípios, estados, regiões e do País. Os resultados apontaram deficiências na qualidade e no acesso as ações e serviços de saúde mostrando o quanto a saúde de Caruaru precisa melhorar.
Apesar dos resultados não tenho dúvidas que um novo ciclo se iniciou na saúde púbica de Caruaru. O modelo de saúde adotado pela atual gestão (atenção básica como eixo estruturante do sistema de saúde, fortalecimento do controle social e implantação de dispositivos como acolhimento, escuta qualificada, clínica ampliada, linha de cuidado, apoio institucional, gestão compartilhada etc) e a chegada dos novos equipamentos de saúde que vem sendo implantados com recursos dos governos federal, estadual e municipal, aliados históricos e ideológicos em defesa do SUS, mudarão a face da saúde pública do município de Caruaru nos próximos anos.
Maria Aparecida de Souza
Sanitarista e Mestre em Saúde Pública pela Ensp-Fiocruz