Desde que havia dado entrada no Hospital da Restauração do Recife, o quadro de saúde do fotógrafo caruaruense Carlos Sá era complicado. Ele havia sofrido um aneurisma no sábado, 2 de junho, quando tirava fotos no camarote da prefeitura de Caruaru, durante a abertura do São João. De súbito, caiu ao chão e, em decorrência da queda, sofreu também traumatismo craniano. Minutos antes ele conversava com os amigos e colegas de trabalho sobre a maratona de fotos que iria fazer durante o São João. Eu fui um dos últimos que conversou com ele, pouco antes de ele subir ao camarote. E, como de costume, ele estava irreverente, anárquico e comentava comigo sobre a próxima foto que ele queria utilizar na coluna assinada por ele na Revista Conteúdo.
“Vai ser a foto do Trem do Forró mesmo, né?”, ele me perguntou. Eu tinha visto a foto no perfil dele no Facebook e respondi: “aquela foto é ótima, vamos colocá-la”. Depois, algumas piadas e eu acabei me afastando para entrevistar alguém. Não o vi mais. E, na verdade, não o conhecia há muito tempo, acredito que há pouco mais de um ano. Mas, foi o suficiente pra considerá-lo marcante pra minha vida profissional e pessoal. Nas vezes em que nos encontrávamos, lá vinha Sá lembrar as história que tinha vivido quando viajava por cada estado do país, de como se sentia livre, dos lugares que tinha fotografado, das histórias engraçadas que tinha vivido.
Uma vez, ele me contou um pouco de como aproveitava a vida. “Das 5.550 cidade brasileiras, já morei e passei em mais de quatro mil. Desde o Paraná até os confins da Amazônia… Eu sou um daqueles poucos brasileiros que conhecem o país em sua super dimensão… Eu vivia viajando, anos viajando. Décadas viajando. Saltimbanco. Cigano. Cidadão do mundo… Parando num lugar, trabalhando, curtindo esse lugar, namorando e… Partindo pra outro lugar. Conheci a Praia de Canoa Quebrada quando no lugar só havia vinte casas…Tenho quase 10 mil km pedalados pelo Brasil em dois anos de viagem… Fui garimpeiro no interior do Amazonas, fui pescador em Mato Grosso… Minhas fotos que tenho publicado aqui no “feice” (Facebook) contam um pouco dessas minhas histórias…”, disse.
E ele tinha personalidade difícil, às vezes parecia ser turrão e pegava uma boa discussão. Além, claro de gostar de fazer uma boa polêmica. Eu me lembro da história que eu ouvia logo no início da faculdade de Jornalismo, de que ele tinha chamado um político de ladrão no fim de uma entrevista coletiva. E algo em que ele fez muito sucesso, justamente pela polêmica, foi no seu perfil do Facebook, quando ele resolveu publicar fotos de Caruaru no passado, e ele tinha um grande acervo delas, além de imagens com alguns micos ou curiosidades de políticos da cidade.
Suas fotos são registros históricos da cidade, que servem para lembrar a muitos caruaruenses como a cidade evoluiu ou para mostrar aos mais jovens o que era essa cidade e todo o seu potencial de desenvolvimento durante décadas. Foi assim durante anos, quando ele assinava uma coluna na revista Caruaru Hoje, do saudoso Souza Pepeu. Foi da mesma forma quando começou a assinar sua própria coluna na Revista Conteúdo. Em duas edições, ele mostrou a Igreja da Matriz, antes de sua primeira reforma, e uma cena de Caruaru durante a comemoração da Semana Santa. Tem outra coluna pronta a ser publicada. Pena que será a última.
Enfim, na manhã da quarta-feira (6), surgiram boatos de que Carlos teria falecido, mas o jornalista Wagner Gil havia entrado em contato com Antônio Prego, irmão de Sá, que desmentiu esses comentários. No entanto, já surgiam especulações de que ele tivesse sido diagnosticado com morte encefálica. Ao final da tarde, seus familiares mais próximos já tinham confirmado a informação de que ele havia falecido, aos 56 anos. Em seu perfil no Facebook, vários amigos já enviavam mensagens acreditando na recuperação dele e torcendo para que ele voltasse logo a tirar suas fotos, que guardam Caruaru como parte da história de Pernambuco.
O corpo de Carlos Sá será velado no Cemitério Dom Bosco a partir de 9h desta sexta. O sepultamento será realizado no cemitério do mesmo nome às 16h.
Johnny Pequeno é repórter no Blog do Mário Flávio – Política de A a Z e jornalista visual na Revista Conteúdo