Artigo – Marília não consegue ser uma boa vereadora e quer governar Pernambuco – Karla Falcão*

Mário Flávio - 12.04.2018 às 09:00h

O sobrenome pesa. O suporte do partido que tem um dos maiores fundos partidários e eleitorais também. Mas, depois de dez anos na política, o que efetivamente Marília Arraes – que é vereadora do Recife e pré-candidata ao Governo do Estado pelo PT – entregou ao povo pernambucano? Vamos aos dados e aos números! E antes de mais nada, vamos contabilizar o tempo que ela de fato estava à frente do cargo de vereadora para evitar qualquer tipo de injustiça.

Atualmente, Marília Arraes está no seu terceiro mandato de vereadora do Recife. Após sua primeira eleição, no ano de 2007, ela cumpriu todo o mandato. Em 2011, quando foi reeleita, além de ter ficado um ano e três meses como Secretária de Juventude da gestão do já prefeito Geraldo Júlio, ela também cumpriu seis meses de licença maternidade em 2015 – este segundo um afastamento justo, obviamente – o que contabilizou dois anos e dois meses como vereadora. Em 2016 ela foi reeleita e até hoje continua no cargo de vereadora. Ou seja, oito anos e oito meses com um cargo no poder legislativo. Tempo suficiente para mostrar serviço que, em mandatos de vereança, são refletidos em dois carros-chefes: os requerimentos, que são instrumentos de fiscalização da prefeitura e servem para exigir que problemas do município sejam solucionados, e os projetos de lei ordinárias. E o que Marília fez?

Mesmo com direito a 23 assessores de 2008 a 2016 e com 18 assessores de 2017 até este ano, de acordo com o Sistema de Processo Legislativo da Câmara Municipal, em todo esse tempo Marília apresentou apenas 246 requerimentos. Se levamos em consideração os 104 meses de trabalho do seu gabinete, ela atingiu uma vergonhosa média de dois requerimentos por mês! E, para os curiosos de plantão, um requerimento chama atenção. É o 9576/2017 que requer uma “Moção de apoio ao fim do bloqueio econômico a Cuba, ainda imposto pelo governo dos Estados Unidos Da América”. Isso mesmo que você leu. Ela, eleita e paga pelos cidadãos recifenses para tratar dos assuntos e interesses da cidade do Recife, fiscalizou mal a Prefeitura esse tempo todo, trabalhou pouquíssimo para que os cidadãos recifenses tivessem uma vida melhor, e foi querer dar conta de Cuba!

Sobre a produção legislativa, os números e a qualidade dos projetos não são nada admiráveis. Levando em consideração o mesmo recorte de tempo de mandato citado anteriormente, Marília apresentou 28 Projetos de Lei Ordinária (PLO), o que é uma média de 3 projetos por ano. De todas as propostas, duas foram sancionadas parcialmente e todas as outras foram arquivadas. Já deu pra perceber o nível de produtividade e influência da vereadora, não é mesmo?

Aqui, para refrescar a memória do povo pernambucano, vale lembrar que Marília foi a autora do polêmico Projeto de Lei Ordinária 1/2010 que tinha como objetivo aprovar a “proibição do consumo de bebidas alcoólicas em vias públicas” e limitar “o horário de funcionamento, aos domingos, de estabelecimentos comerciais que vendem bebidas alcoólicas para consumo imediato” no Recife. Em outras palavras, em vez de se preocupar com o trânsito caótico, com as escolas que funcionam em situação precária, com a falta de saneamento em mais de 60% da cidade ou problemas realmente relevantes para o povo recifense, ela foi querer regular o lugar e o horário que os recifenses – adultos – bebem.

Mas não para por aí. Lembra que os vereadores do Recife aprovaram um aumento de 62% para próprio salário em 2012? Marília foi favorável. Lembra do aumento do auxílio alimentação de 3 mil para 4,5 mil reais no ano passado que foi revogado graças à pressão popular? Além de receber um gordo salário de R$ 15mil por mês, auxílio paletó no início e no fim do mandato, verba indenizatória e vários outros privilégios, Marília também foi a favor do aumento de mais essa regalia. Essa mesma política que não produziu nada este ano, há dez anos se serve do povo e é incapaz de servir ao povo, finge que é defensora do povo e agora quer ser governadora. Você quer pagar o pato?

*Karla Falcão é professora de história e faz parte do Livres em Pernambuco