Reza a lenda que, nos anos 50, o Vaticano teria construído uma máquina chamada “Cronovisor”. Através dela, seria possível enxergar imagens do passado. Deixando as teorias de lado, eu gostaria de dizer que hoje senti um grande desejo de possuir uma máquina assim. Eu gostaria que existisse uma máquina que nos mostrasse o passado acontecendo. Se fosse possível, eu iria colocá-la hoje nesta casa, exibindo suas imagens em um telão. E a data que eu gostaria de mostrar seria 05 de outubro de 1957. Exatamente 60 anos atrás.
Eu não queria ver os fatos históricos que marcam esse período. Eu não queria ver a Rússia lançando seu primeiro satélite artificial, nem o clima de instabilidade política em Buenos Aires. Não me interessaria sequer assistir aos bastidores da política, que previa a mudança da Capital Federal para Brasília. Meu desejo seria visitar o Sítio Serra de Aires, no município de Bezerros. Entre a simplicidade do lugar, todos iríamos ver nascendo um bebê humilde, que desenvolveria um trabalho grandioso. Eu gostaria de mostrar para vocês o primeiro sorriso e o primeiro olhar, encantado com o mundo, deste que se tornou um dos maiores atores da nossa terra: Severino Florêncio.
Dando um salto no tempo, é possível lembrar daquele jovem destemido, que com 15 anos de idade veio morar em Caruaru, onde estudou, trabalhou, se desenvolveu. Após uma experiência com o teatro em um grupo jovem, foi convidado por Jô Albuquerque a fazer parte do TEA, Teatro Experimental de Arte, que havia sido criado por Argemiro Paschoal e Arary Marrocos, casal que dispensa comentários devido aos grandes feitos por nossa cultura.
Algum tempo depois, já nos anos 80, foi contratado pelo Sesc, onde já havia ministrado algumas oficinas de artes cênicas. Em seguida, criou um grupo teatral, de modo que dirigiu 10 espetáculos e descobriu diversos talentos, muitos deles brilhando nos palcos de Caruaru e da região até os dias de hoje. Em 1987, fundou o grupo Arte Em Cena, por meio do qual produziu peças grandiosas, a exemplo de “Doroteia Vai à Guerra”, “Quinze Anos Depois”, “Avatar” e “Deus Danado”, só para citar algumas.
Versátil, o ator também fez algumas incursões pelo mundo do cinema. “As Videntes de Cimbres”, “A Cidade de Quatro Torres”, “A Ressurreição da Praça”, “O Cangaceiro”, “Ferrolho”, e “Nelson Barbalho, o Imortal do País de Caruaru” são apenas algumas das participações de Severino Florêncio no universo da sétima arte.
A verdade é que ele nos encanta. Nos palcos, consegue nos fazer rir ou chorar. Seja encenando na Paixão de Cristo de Nova Jerusalém ou no monólogo “A Visita”, ele faz com que as letras do roteiro ganhem vida através de seus gestos, sua voz, seu talento. Fora do palco, no espetáculo da vida cotidiana, Severino é um forte guerreiro, um batalhador incansável pela cultura regional, mas também é uma pessoa sensível, um amigo do bem e da virtude.
Pois bem, senhoras e senhores, não posso – conforme falei no início – apresentar nesta noite as cenas reais de toda a história de Severino Florêncio. O que posso, porém, é aplaudir e engrandecer a história deste homem ainda em vida. É dizer que este título de cidadão de Caruaru é um símbolo do respeito, do reconhecimento e do agradecimento por tudo o que ele faz, mas também por tudo o que ele é. Não posso mostrar o primeiro sorriso daquele bebê que nasceu há seis décadas, mas posso ver o sorriso emocionado no rosto deste homem cujo maior talento que tem é emocionar. Desejo-lhe muita luz, muita paz, muita inspiração. E que Deus, o Pai das Artes, permaneça guiando o seu caminho, dentro e fora dos palcos.
*Discurso do ex-vereador Jaelcio Tenório