“Eu não perdoo meus inimigos, já destruí todos eles”. Essa frase foi uma resposta do general e governante português, Ramón Narvaez (1800/1868), no leito de morte, a pergunta do sacerdote sobre perdoar seus desafetos. Para Maquiavel não existe inimigo inofensivo. Na política quando trata de inimigo significa derrotá-lo politicamente, afastar-lhe o espaço de ação e evitar seu retorno, aniquilando-o do mundo político dentro das normas legais democráticas e do respeito aos direitos e garantias individuais.
Quando um inimigo político chega perto é para fingir que aceita a aproximação para conhecer melhor suas debilidades, segredos e carências, para atacá-lo no momento em que estiver mais frágil. Quando se é adversário podemos transformá-los em amigos, principalmente quando a procura se dá após uma vitória já consolidada.
Em O Príncipe, Maquiavel conclui: “Quem pensa que, entre personagens importantes, novos benefícios fazem esquecer antigas injúrias, se engana.” Pois bem, ainda que só na metade de agosto seja permitida oficialmente a campanha, esses dias que antecedem esse processo funcionam como uma amostra do que vem pela frente. Em Caruaru, com raras exceções, as campanhas são movidas pelo calor da emoção, e em muitos casos por paixões exacerbadas por este ou aquele candidato, e já é fácil perceber os desafetos e até mesmo xingamentos em redes sociais, a vigilância cerrada monitorando falas e movimentos e ai daquele que ao menos sinalizar simpatia e aproximação com esta “cor”, por mais que esteja comprometido com “aquela” outra, pois corre o risco de ser punido ou marcado como infiel.
Estamos a um mês do período de convenções destinadas a deliberar sobre coligações e escolher candidatos a prefeito, a vice-prefeito e a vereador e em plena efervescência das festas juninas os territórios já são nitidamente delineados. O “tempo da política” chegou onde entre os pretensos candidatos o espírito competitivo supera a boa convivência e com seus apaixonados apoiadores predomina o pensamento que o “meu” presta e o “seu” não vale nada. Época de discernir inimigos de adversários. Misturar isso é um erro infantil e desnecessário. No campo majoritário o clima ‘pega fogo’ tanto quanto as fogueiras neste momento junino.
Há quem desconsidere a campanha dos chamados pré-candidatos “sem condição de ganhar”, propondo desistência, ou por conta de pouca estrutura financeira ou por outras circunstâncias diversas, como são os casos, por exemplo, dos sindicalistas Eduardo Mendonça e Miltom Manuel, ou de Adilson Lira, Rivaldo Soares e de Eduardo Guerra, lembrando que este último quando esteve candidato a prefeito em 2004, com pouco mais de 700 votos, interferiu no resultado do pleito daquele ano. Por essas e outras questões uma candidatura aparentemente ‘nanica’ tem seu valor estratégico e importância.
No campo mais confortável, com melhor estrutura e condições, estão o atual vice-prefeito Jorge Gomes, a deputada estadual Raquel Lyra (ainda que o ex-governador João Lyra permaneça sendo uma carta na manga do grupo), Erick Lessa e o deputado estadual Tony Gel. Cada um com seus planos e projetos para uma cidade melhor. Alguns destes já com experiência administrativa. Embora as pesquisas iniciais apontem vantagem para este ou aquele eu observo que todos vão começar praticamente no mesmo nível e todos com a mesma condição de crescer e estar no segundo turno, ainda que apenas dois passem para esta etapa. O esperado é que aquele que conseguir agregar mais lideranças e partidos em torno de sua visão e acumular mais confiança da população em torno de suas idéias se eleja e consiga começar um novo tempo na administração pública do município.
Tenho esperança que este seja um pleito onde à prática de corrupção eleitoral, o abuso de poder econômico, à compra de votos e qualquer ato ilícito seja prontamente denunciado e mais rápido ainda punido. Que na campanha predomine o respeito e tolerância aos oponentes, estes podem e devem ser adversários o que não precisa é ser inimigo. Por fim, que o voto reflita a compreensão que o cidadão tem de seu Município. Para isso é fundamental eleitores mais conscientes e responsáveis que escolham candidatos lúcidos e comprometidos com as causas de justiça e da verdade, ainda que seja difícil encontrá-los.
*Paulo Nailson – É militante político e na cultura