Entendo perfeitamente o que uma grande parte do eleitorado caruaruense anda a sentir devido à ação indigna, omissão, revanchismo, corrupção, beneficiamento próprio ou para parentes e amigos, subserviência etc. de muitos de nossos políticos.
Também me incluo neste sentimento de raiva, desprezo, repulsa, aversão e por que não dizer decepção. Nada parece-me mais adequado do que essas palavras para traduzirem o desinteresse político ou a campanha tipo “não voto em político nenhum” que toma conta de nosso povo, sobretudo quando vivemos notícias de casos assombrosos de falta de ética e corrupção entre os nossos políticos.
É senso comum indignarmos frente a vereadores eleitos com o nosso voto legislarem em causa própria ou obedientes caninamente ao chefe do executivo, que manda e desmanda na cidade ou ainda por tentarem obter vantagens indevidas para aprovar projetos do executivo, enquanto discutem, quando se dignam, dias e meses questões de interesse popular. Também é de causar perplexidade quando esses mesmos políticos encontram sinistros caminhos para incluir benefícios e benesses a seus protegidos, desperdiçando iniquamente o erário público.
E como se já tudo isto não bastasse, o entra e sai de vereadores na Casa José Carlos Florêncio, as denúncias de desmandos do executivo, de improbidade deixam a opinião pública completamente desnorteada, sem saber a que se ater, ora parecendo que quer a mudança por uma renovação total e às vezes por entregar a vida política da cidade ao clã que apresenta-se como oposição, mas que não passa de uma simples troca de carta do mesmo baralho.
Por outro lado a violência em Caruaru cresce em ritmo assustador; a educação anda de mal a pior; a saúde está em coma; a periferia no barro, no lixo e na completa falta de infraestrutura e presença do governo municipal que só vê os bairros onde mora a minoria mais rica da cidade; o trânsito cada dia pior; o verde desaparecendo; o desemprego aumentando; as tradicionais fontes de renda do município definhando e mendigando auxílio do poder público etc. O povo está cansado, diz que quer mudança, não aguenta mais esses políticos revezarem mandatos ou elegerem seus parentes e amigos.
Fico somente na dúvida se de fato o eleitor caruaruense neste ano eleitoral fará valer sua revolta ou perderá sua capacidade de indignar-se com falsas promessas, campanhas milionárias ou favores escusos.
Já bem explicava Wadson Phelipe, em seu artigo “Ética na Política Brasileira”:
A ética é a parte da Filosofia que estuda os juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto. A ética, portanto, é o estudo dos valores que regem a conduta humana subjetiva e social. É o parâmetro que temos para julgar as ações que beneficiam ou prejudicam a vida humana neste mundo e nesta sociedade. (in www.coladaweb.com)
E o que anda a ocorrer na política de Caruaru nos autoriza a dizer que muitos de nossos representantes perderam seus parâmetros éticos. É imoral darmos outorga de representação a quem não a merece. Pense bem, não é isentando-se ou boicotando as eleições que daremos o troco a esses políticos, mas renovando o quadro e possibilitando pessoas honestas, trabalhadoras, inteligentes e descomprometidas com essas oligarquias, que se revezam no poder há anos, mostrarem suas propostas e terem sua oportunidade.
Se não agirmos hoje o que poderemos cobrar mais tarde? Anular, abdicar, ou melhor, votar nulo ou em branco não nos faz obter nenhum efeito diferente da desconsideração de nosso voto, pois outros votarão e podem até eleger aquele que não queríamos sobre hipótese nenhuma. Não podemos entrar no discurso de que “nenhum político merece o nosso voto”, abrir mão desse direito, reduzir-nos-ia a cidadãos passivos de segunda, pois se queremos influir na legislação e administração de nossa cidade temos que participar escolhendo os melhores, os mais preparados no estudo da cidade, os que conhecemos e já nos deram provas de boa índole. Somente assim renovaremos efetivamente a política em Caruaru.
*Moisés Feitoza Bonifácio é Guia de Turismo, Turismólogo, Professor.